Eu vou contar desta vez
Meu cordel emocionado
Que ocorreu no Cariri
Região sul do estado
Na cidade de Santana
Em Inhumas, povoado.
Mais jovem de quatro filhos
No sítio Oitís foi nascer
Antes de seu nascimento
Seu pai veio a morrer
E com um ano de idade
A mãe também foi perder.
Foram Benigna, Cirineu
Com Carmélia, e Alderí
Crianças órfãs sofridas
Tiveram de prosseguir
Para encarar o passado
E enfrentar o porvir.
As irmãs Sisnando Leite
Chamadas Rosa e Honorina
Adotaram essas crianças
Com afeto e disciplina
Pra frequentarem a missa
E a escola como rotina.
Benigna dedicada
Educada e estudiosa
Era prendada no lar
E na vida religiosa
E cuidava das tutoras
Quando já eram idosas.
É uma nave, o destino
Onde o acaso é o piloto?
Ou quem dirige é a gente,
Marcha, volante, e escopo?
E a culpa que faz errada
Transfere pro Capiroto.
Pois um rapaz enredado
Da vizinhança maldoso
Movido por seu intuito
Repugnante e doloso
Passou ele a assediá-la
Tão sórdido e cabuloso.
Resistiu tais investidas
A todas elas recusas
As falas repugnantes
Sebosas, mais obtusas
Fazendo algumas pessoas
As coisas mais absurdas.
E não aceitou o abuso
Nem ao machismo cedeu
Contra a cultura do estupro
Resistiu, se defendeu
Benigna martirizada
Por ter o gênero seu.
Não vou nem dizer o nome
Que o abusador se chamava
Tinha dezessete anos
Do engano que lhe formava
No sexismo violento
Que o seu machismo abrigava.
Vamos falar de assédio
E de abuso sexual
Feminicídio, e estupro
E do assédio moral
Da violência doméstica
Para o dolo intencional.
Que atormenta as mulheres
Que as oprime e as matam
Benigna, a mártir de todas
Que as estatísticas datam
Da violência de gênero
Que os boletins nos relatam.
Cada vez mais violento
O ser nojento insistiu
Não tolerou mais recusas
Sacou a arma e agiu
Num crime premeditado
Vários golpes desferiu.
E se evadiu do local
Para ficar foragido
Foi instaurado o inquérito
Todo apurado e polido
O cabrunco foi achado
E preso como devido.
Tão brutal assassinato
Causou grande comoção
Tanto pela crueldade
Quanto da motivação
Passando o local do crime
A ponto de devoção.
Devotos e peregrinos
Em direção ao lugar
Pela menina Benigna
E seu martírio exemplar
Que representa as mulheres
Em todo e qualquer lugar.
Da devoção e pureza?
Da inocência e da fé?
Ou do direito sagrado
Ao SIM e ao NÃO que disser?
Sua saúde mental
O seu poder, ser Mulher.
Da ingenuidade ao mistério
Da água ao vinho, e ao vinagre
Fazer a graça alcançada
E co-criar o milagre
Pra libertar a verdade
Deixar o véu que se rasgue.
No ano 2013
Um tal processo se abria
Para torná-la “Beata”
Que o Vaticano dizia
E eu querendo a salvaguarda
Da Lei, e da Delegacia.
Foi declarada “Beata”
Por sua igreja querida
Por reservar-se ao direito
Da decisão escolhida
E preferir ao martírio
Contrariada e ofendida.
Violências contra as mulheres
Avançam pelos lugares
Do reservado de um lar
Às vistas largas e olhares
Desde as crianças indígenas
Às Dandaras dos Palmares.