Nos Caminhos da Educação

Ivaldo Fernandes
revista de cordel Nos Caminhos da Educação


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Moreira de Acopiara

Eu já escrevi cordéis
Falando de Lampião,
Frei Damião, padre Cícero
E outros mitos do sertão,
Mas agora os versos meus
Serão sobre educação.

Só que eu não vou fazer isso
Por causa de um bom palpite,
Mas porque um professor
Me fez o feliz convite.
E sabendo que na vida
Todos temos um limite.

E esse professor me disse:
Bom Moreira, não se enfeze!
Quero que escreva um cordel
Que não tenha tom de tese,
Sobre educação, pra ser
Distribuído no SESI.

Achei a iniciativa
Ser por demais pertinente,
Até porque no Nordeste,
Num passado bem recente,
Cordel alfabetizou
E informou bastante gente.

É que os cordéis sempre são
Histórias bem trabalhadas,
Possuem linguagem fácil,
Estrofes sempre rimadas,
Versos sempre bem medidos,
Palavras cadenciadas.

E eu que nasci no sertão
E no sertão fui criado,
Estou à vontade, pois
De casa para o roçado
Foi através do cordel
Que fui alfabetizado.

E quando fui para a escola
Já tinha boa noção.
Hoje, após ler muitos livros
Já cheguei à conclusão
De que é muito relativo
O assunto EDUCAÇÃO.

Pois já vi analfabetos
Excelentes lavradores,
Pedreiros e carpinteiros,
Ourives, mineradores,
Homens rudes, é verdade,
Mas que têm os seus valores.

Por outro lado, já vi
Gente que se diplomou
E não sei por quais razões
No tempo estacionou;
Não conseguiu progredir
Porque não se reciclou.

Acho também que os humanos
São, de algum modo, educados;
Para algum ofício foram
De algum modo preparados,
Mesmo aqueles que não foram
Ainda alfabetizados.

Por exemplo: um índio velho,
Que de um silvícola não passa,
Ele não foi à escola,
Mas canta, dança, faz graça,
Faz a roça, planta, limpa,
Colhe, coze, pesca e caça.

Sabe construir um arco,
Sabe limpar seu terreiro,
Sabe cuidar da família,
Ajudar um companheiro,
Construir um barco, um teto
E sabe ser um guerreiro.

Ele conhece um remédio
Que alivia a sua dor,
Conhece as plantas, os bichos,
Os ofícios do amor...
E para aprender tais coisas
Teve um orientador.

Se amanhã um acadêmico
Precisar ser deslocado
Até uma grande aldeia
Não vai ter bom resultado.
Pelos homens da floresta
Tem que ser reeducado.

Mas nós somos preparados
Desde pequenos pra ser
Eternos competidores,
E quem possui mais saber
No mundo modernizado
Tem mais chance de vencer.

E nós agora vivemos
Num mundo globalizado
Onde todo ser humano
Deve ser bem informado.
Mas antes disso é preciso
Que seja alfabetizado.

Como disse Paulo Freire,
Um homem muito sabido:
Educação e cultura
Dão à vida mais sentido!
E educar é libertar
De uma vez o oprimido.

O oprimido só sofre
Porque não tem condição
De se defender dos laços
Perversos da opressão.
E o opressor só oprime
Por não ter educação.

Um analfabeto é,
A meu ver, um sofredor
Que é facilmente oprimido.
Mas já disse o professor:
“A educação liberta
Oprimido e opressor”.

Eu estou muito à vontade
Para entoar tal refrão
Porque também já senti
Os efeitos da opressão
Num momento em que eu não tinha
Acesso à educação.

O nosso Brasil possui
Dimensões continentais;
Tudo que se planta dá,
Tem riquezas naturais...
Cidadãos analfabetos
Já não se admite mais.

E o homem que quer crescer,
Nas mais ricas fontes bebe.
E torna-se tudo ou nada
(é o que a gente percebe)
Conforme a educação
Que no caminho recebe.

Nós temos infra-estrutura
E um sistema competente,
Escolas direcionadas
À população carente...
Quem sabe ler vê o mundo
Com uma visão diferente.

O governo federal
Já está determinado:
Disponibilizou verbas
E quer como resultado
Em poucos anos o grande
Brasil alfabetizado.

Todo mundo acha bonito
Aquele que sabe ler,
Sabe interpretar um texto,
Se expressar bem e escrever.
Desse modo a vida fica
Muito melhor de viver.

Mas eu conheço também
Quem só sabe escrevinhar,
Mas um texto, mesmo simples
Não consegue interpretar.
Esses são analfabetos,
Devem se alfabetizar.

O ser humano é capaz,
Tem muita desenvoltura!
Portanto, leia, se envolva
Com boa literatura
Porque bons livros nos trazem
Educação e cultura.

Os homens de mais sucesso
Devoram a matemática,
Consultam bons dicionários,
Conhecem bem a gramática,
Sabem escutar os mestres
E têm noções de informática.

São cuidadosos e vivem
Permanentemente lendo.
As novidades que surgem
Eles já ficam sabendo
E têm mais condições de
Continuar aprendendo.

E você, se agir assim,
Na vida vai render mais;
Leia bons poemas, contos,
Boas revistas, jornais...
Os romances brasileiros
São também fundamentais.

Mas não bote na cabeça
Que você tem que ler tudo.
Não precisa! Escolha uns temas
Que sejam bom conteúdo
E sobre esses temas faça
Um minucioso estudo.

O bom leitor é aquele
Que lê um texto e entende;
Já disse Guimarães Rosa:
“Bom guerreiro não se rende.
Mestre não é quem ensina,
Mas quem de repente aprende

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