A tirada espingarda lazarina, vê cachorro acuado com tatu
Um vaqueiro pega um boi zebu, enfrentando os perigos da campina
Gavião escondido na faxina, pra pegar pinto novo no oitão
Um matuto soltando foguetão, avisando de um filho que nasceu
Só conhece essas coisas quem viveu no cenário poético do sertão
Arma, foge, vereda de preá, faxiar passarinho na dormida
Tu caiar as marrecas na bebida, ver galinha fugir do carcará
Fazer pasta de rapa de juá, que a espuma é do jeito de sabão
Cria peba no fundo de um caixão, quem morou no sertão
Nunca esqueceu, só conhece essas coisas quem viveu
No cenário poético do sertão
Pega bicho que rouba e buta a peia, dá conselho a vizinho que se intriga
Proíbe cachaceiro caçar briga, que brigar sem razão é coisa feia
Buta a broca e planta em terra leia, paga meia de milho e de feijão
Vê bicudo acabando o algodão e não chora não
Pela safra que perdeu, só conhece essas coisas quem viveu
No cenário poético do sertão
Fazer parto de vaca no terreiro, bota a marcha em passada de cavalo
Acertar o relógio pelo galo, saber tipo de flores pelo cheiro
Dançar baile na luz do candieiro, paquerando a filha do patrão
Segurar jararaca com a mão
E curar uma reis que ela mordeu
Só conhece essas coisas quem viveu
No cenário poético do sertão
Reunir os vizinhos pra rezar, do primeiro de maio ao derradeiro
Arrancar capucho e formigueiro, fazer bolas de meia pra jogar
Roubar moça pra outro se casar, ver menino brincando com a pinhão
Fazer posta Correndo com irmão, pra saber quem ganhou e quem perdeu
Só conhece essas coisas quem viveu
No cenário poético do sertão
Um menino fazendo arapuca, pra pegar cordonis, pombo e anum
Uma cobra brigando com tio, um boi manso assombrado como tuca
Dois matutos travados na sinuca, Pra saber quem dos dois é campeão
Bodegueiro contando no balcão, quantas cano um pinguço já bebeu
Só conhece essas coisas quem viveu
No cenário poético do sertão
A cabeça de um boi numa estaca, uma briga de um touro com carneiro
Uma cabra berrando no chiqueiro, um cachorro fugindo da ticaca
Um tio enfrentando a jararaca e curar-se com leite de pinhão
Urubus procurando refeição na caveira de um bicho que morreu
Só conhece essas coisas quem viveu
No cenário poético do sertão
Buta água de lata e de ancoreta
Corta lenha com foice e com machado
Pega touro valente no cercado
Atirada espingarda de vaqueta
Machucar a pimenta malagueta
Fazer molho no caldo do feijão
Separar as abelhas do zangão
Conhecer capuchu, cupira e breu
Só conhece essas coisas quem viveu
No cenário poético do sertão