Não há paz sem ter justiça, não há domingo sem missa, nem ambição, sem cubica e nem pecado, sem perdão. Não há diversão sem gente, república sem presidente, nem a cantador valente pra me vencer no quadrão.
Não há rio sem enchente, nem poeta sem repente, nem hospital sem doente, nem culto sem oração, não há artista sem dote, carpinteiro sem serrote, nem fera que me derrote cantando os oita quadrão.
Não há cantador sem mote, nem tropeiro sem chicote, nem igreja sem sacerdote, nem fé sem religião, também sem Deus não há crença, não há crime sem ofensa, nem cantador que eu não vença nos oito pé de quadrão.
Não há jornal sem imprensa, arenga sem desavença, nem enfermo sem doença, nem safra sem produção, não há alta sem imagem, nem prece sem ser mensagem, não há quem leve vantagem pra mim nos oita quadrão.
Não há bravo sem coragem, nem há povo sem história, não há herói sem vitória, nem trajeto sem viagem, não há campo sem paisagem, nem acertão sem verão, nem ancião sem bastão, não há sono sem enfado, nem velho sem se cansar, e lá se vão dez a quadrão.
Não há mágoa sem quexume, nem desgosto sem tristeza, nem amice sem beleza, nem a mulher sem ciúme, nem a peso sem volume, nem roubo sem ser ladrão, nem briga sem confusão, nem a malandro sem ginga, nem a forró sem catinga, e lá se vão dez a quadrão.
Não há vaqueiro sem gado, nem jangadeiro sem mar, não há jogo sem azar, nem há homem sem pecado, nem batalhão sem soldado, nem guerra sem explosão, nem intriga sem questão, nem a São João sem festejo, nem a namoro sem beijo, e lá se vão dez a quadrão.
Não há rua sem esquina, nem há fogo sem fumaça, nem há palhaço sem graça, nem circo sem bailarina, nem suco sem vitamina, chuva grossa sem trovão, nem crise sem inflação, nem há tiro sem disparo, nem há cachorro sem faro, e lá se vão dez a quadrão.
Não há feira sem retalho, não há caçula sem manha, nem acervado sem banha, nem progresso sem trabalho, nem cassino sem baralho, nem mar sem embarcação, nem construção sem pinhão, e nem vestido sem derrota, nem cabra ruim sem macota, e lá se vão dez a quadrão.
Não há grande sem poder, nem arreza sem amém, nem mal que não tragam bem, nem doutor sem saber ler, nem pequeno sem sofrer, rico pra não ser barão, nem pobre pra ser patrão, nem negro pra ser bonito, só se for São Benedito, e lá se vão dez a quadrão.