por: Mariane Bigio
Sitio Formoso era lindo
Feito o nome já dizia
Lá morava uma menina
O seu nome era Maria
O mesmo nome da avó
Da mãe e também da tia
Por haver tanta Maria
Pra ninguém se aborrecer
Ela ganhou mais um nome
Logo depois de nascer
Tornou-se Maria Flor
E assim pôs-se a crescer
O jardim a florescer
A primavera chegou!
Correu notícia no sítio
Rebuliço se instalou
“Vai ter baile e muita dança
o vizinho convidou!”
Cada moça procurou
uma roupa pra usar
Maria Flor foi correndo
No seu baú foi buscar
Escolheu um vestidinho
O mais bonito que há!
Mas ao experimentar…
O vestido não cabia!
Essa Flor cresceu tão rápido
Coitadinha da Maria!
Provou, abriu, não fechou
Nenhuma roupa servia!
Uma prima lhe acudia:
“Esse aqui pode ser seu
Já não cabe mais em mim
Já não pode mais ser meu”
Maria pegou o vestido
E à prima agradeceu
A menina entristeceu
Queria roupa novinha!
Algo bem diferente
Com detalhes na bainha
Com gola, manga e botão
Babado, laço e fitinha
Foi chegando a noitinha
Família toda animada
Só Maria, cabisbaixa
Num cantinho, encostada
Mas quando chegou na festa
Ficou logo deslumbrada!
A casa bem decorada
O jardim muito bonito!
Aliás, em todo o sítio
Foi seu canto favorito
Sentou-se ali, entre as plantas
Ficando longe do agito
Quando ouviu barulho aflito:
“Que cara é essa querida”
perguntou-lhe uma cigarra
pousada na margarida
Maria Flor respondeu:
“Estou muito mal vestida!”
E com cara de sofrida
a menina prosseguiu:
“Este vestido é usado
Porque outro não serviu
Está grande e desbotado
Não sei se a senhora viu…”
E a cigarra fez: “psiu!
Eu posso te ajudar!
Vou chamar alguns amigos
Sua roupa incrementar
Você já é tão bonita
E mais bela irá ficar!”
Flor não quis acreditar
Mas a cigarra chamou
A mais linda borboleta
Que em seu colo repousou
“Quer broche melhor que esse?”
A cigarra perguntou
E ela então continuou
“Que venham as joaninhas!”
De cima a baixo da roupa
Fizeram fila retinha
“Estes são os seus botões,
mas podem fazer cosquinha!”
A astuta cigarrinha
Muitas flores contratou
A papoula bem frondosa
Em mangas se transformou
Cada pétala de rosa
A cigarra costurou
Com o fio que sobrou
De uma teia da aranha
Fez assim uma bainha
De beleza tão tamanha
E ainda completou
“Tem alguma coisa estranha…”
“Margarida, não se acanha!
É você que está faltando!”
A flor branca e amarela
Foi de pronto se instalando
Nos cabelos de Maria
Que estava adorando!
Uma planta se arrastando
Dessas feito trepadeira
Agarrou-se na cintura
E enrolou-se por inteira
A cigarra agradeceu:
“Bem-vinda, dona Parreira!”
Centopéia, bem faceira
Veio quase tropeçando
Subiu até lá em cima
Foi na gola se instalando
Parecia um colar
Com muitas contas brilhando
Maria se viu dançando
Não podia acreditar!
Nunca vestiu-se assim
Nunca pôde imaginar
Quase beijou a cigarra
Que falou pra não cantar:
“Vá depressa aproveitar
lá na festa se entreter
e quando tudo acabar
venha logo devolver
cada coisa pro seu canto
pro jardim poder viver”
Maria então foi fazer
O que a cigarra mandou
Se divertiu como nunca!
Todo mundo elogiou
O vestido mais bonito
Que ninguém jamais usou
“E quem foi que costurou?”
Todo mundo perguntava
Maria contava tudo
Mas ninguém acreditava
Ela estava tão feliz
Que pros outros nem ligava!
Maria contagiava
Todos com sua alegria
E já nem se importava
Com a roupa que vestia
Assim voltou ao jardim
Onde a cigarra vivia
Ali desfez a magia
A todos agradeceu
Cada coisa em seu lugar
A menina devolveu
Voltou com vestido velho
Só que ninguém percebeu!
E o dia amanheceu
A festa teve seu fim
Maria Flor florescia!
Terminou feliz assim
A história da menina
Que vestiu-se de jardim!