Os Sofrimentos de Alzira versos de Cordel

Ivaldo Fernandes
capa de revista Os Sofrimentos de Alzira.


ALZIRA era uma condessa 
filha do conde Aragão 
desde muito pequenina 
que tinha um bom coração 
embora que dos seus pais 
não fosse essa criação.

Porque o conde pai dela 
só olhava para o ouro 
por isso chamava o cofre 
o céu do meu anjo louro 
dizia que a alma dele 
era a honra e o tesouro.

Alzira desde criança 
que era compadecida 
dava pequeno valor 
aos objetos da vida 
visitava os hospitais 
inda que fosse escondida.

Das iguarias da mesa 
ela mandava um quinhão 
para dar àqueles pobres 
que mais tinham precisão 
principalmente os doentes 
que não tinham remissão.

Um dia em qu'ela fêz ano 
o padrinho presenteou-a 
com uma capa de brocado 
que muito caro comprou-a 
ela achando-a muito linda 
com muito gosto guardou a.

Indo a missa de S. Pedro 
a primeira vez botou-a 
de volta viu uma criança 
gelada morrendo à toa 
ela pegou a criança 
tirou a capa embrulhou-a.

Alzira tinha dez anos 
quando este caso se deu 
ela pegou a criança 
nos seus braços aqueceu 
antes de chegar em casa 
a criancinha morreu.

Chamou um criado e disse: 
conduza este inocente
vá à casa mortuária 
faça um enterro decente 
pois morreu de fome e sede 
nesta praça cruelmente.

Morreu um pobre inocente 
em tão grande crueldade 
sem encontrar uma mão 
de tantas que há na cidade 
que a ela se estendesse 
com olhos de caridade.

Afinal Alzira era
amparo dos desgraçados 
mãe dos órfãos desvalidos 
braços e pernas de aleijados 
os cegos pobres dali
eram por ela amparados.

Alzira uma noite teve 
um sonho muito cruel 
sonhou que o pai obrigava 
ela à força beber fel 
numa vasilha de ouro 
dizendo: beba que é mel.

Ela se acordou agitada 
se ajoelhou e foi rezar 
depois que acabou a súplica 
benzeu-se e foi se deitar 
da forma que ela sonhou 
tornou de novo a sonhar.

Ela por sonho recusava 
porém seu pai obrigou-a 
dizendo; beba este liquido 
que é uma bebida boa 
ou bebe a liquido do vaso 
ou então amaldiçoou-a.

Ela pegava a taça 
e bebia todo fel
com a amargura do liquido 
sofria uma dor cruel
depois um anjo chegava 
dava-lhe um cálice de mel.

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