O Príncipe e a Fada - Versos de Cordel

Ivaldo Fernandes
revista de cordel O Príncipe e a Fada


Os raios do sol morriam
através da cordilheira
se ouvia ao longe o murmúrio
das águas na cachoeira.
Já em busca do crepúsculo
passava a ave agoureira

A esta hora se via
da noite o fundo mistério
Diana,' deusa da caça
abrangia o hemisfério
tornando aquela montanha
em sitio êrmo e funério

Bamam era 1 grande príncipe
filho do rei do país
andava pola montanha
à caça de javalis
dos tigres e leopardos
melros, pardais e perdiz

As onze horas do dia
tinha ele a serra subido
à noite ele deu fé
Já tinha escurecido
quando quis voltar à casa
foi tarde, estava perdido

O príncipe não atinava
por onda havia de sair
e ali naquela serra
era; um perigo dormir
mas ele não acertava
por onde pudesse ir

Carregou a espingarda.
preparou o espadim
e disse dentro de si:
10 leões não comem a mim
só aquele que criou-me
conseguirá dá-me fim

Sentou-se sobra uma pedra
contemplando a natureza
de Deus o poder Imenso
do homem a grande firmeza
dizendo consigo mesmo:
não hã nada de grandeza

O vento naquela garra
soltava imensos gemidos
uivavam lobos nos montes
leões soltavam rugidos
rosnavam tigres nas covas
se mostrando destemidos

Porém o príncipe Bamam
se conservava calado
a espingarda na mão
o espadim preparado
outros perigos maiores
já ele tinha encontrado

Com vinte anos de Idade
tinha vencido uma guerra
bateu-se com um monarca
tomou-lhe o trono e a terra
por isso não tinha medo
dos leões daquela serra

Já perto da meia-noite
ouviu rugir um leão
mas ele não se importou
nem bateu o coração
depois ouviu uma voz
entoando uma canção

Naquela canção diziam:
“sou mais ditosa que a flor
nasci no ventre da serra
criei-me aqui Com primor
pertenço ao reino das águas
não sinto frio nem calor

—Minha mãe é esta serra
meu pai é o horizonte
meu avô o oceano
minha madrinha é a fonte
um astro me batizou
sou rainha deste monte”

Quando o príncipe ouviu a voz
ficou bastante espantado
porque semelhante som
o punha impressionado
ele murmurou consigo:
só sendo reino encantado

Dirigiu-se ao lugar
a fim de ver quem cantava
a voz enchia a montanha
cada vez mais alteava
instrumento algum no mundo
aquela voz Imitava

Ele descendo uma gruta
viu uma jovem sentada
uma serpente dormindo
junto aos pés dela enroscada
um foco duma luz verde
por quem era iluminada

Vinha ao lado esquerdo dela
sobre um árvore um gavião
entre ela e a serpente
tinha prostrado um leão
como quem estava rendendo
um culto de adoração

Ele interrogava a si:
meu Deus estarei enganado?
será Ilusão de sonho?
porém estou acordado
que ente será aquele?
mortal não é está provado

Era uma moça bem alva
de regular estatura
a quem podia chamar-se
a rainha da formosura
a beleza de seu corpo .
não tinha outra criatura

O príncipe ficou ali
como uma estátua de gesso
por ver naquele deserto
um ente de tanto apreço
tendo aves como música
e as relvas como berço

Ela o viu e perguntou-lhe:
quem é que repousa aí?
-—Sou eu, respondeu Bamam
ouvi tua voz dali
como fiquei encantado
me aproximei mais de ti

Bamam perguntou: permite
que te aprecie mais de perto?
—Pode vir, respondeu ela
É nosso todo o deserto
se for honesto e honrado.
nada sofrerá, por certo

O príncipe disse: essas feras?
não quererão me ofender?
— Não senhor, lhe disse ela
nada aqui deves temer
desde o leão à serpente
faz que eu mandar fazer

Ele aproximou-se dela
e pôs a mão sobre o ombro
apreciando-a ficou
quase em estado de assombro
ela olhou pra ele e disse:
eu não namoro nem zombo

--Sou séria como a verdade
pura como a Inocência
tão casta como a abelha
tão fina como a essência
sou predileta de Deus
é bela a minha existência

—Os ventos são meus criados
O sol meu primeiro amigo
O espaço é meu jardim
o céu me serve de abrigo
o mar me embala no seio
as ondas sonham comigo

Bamam perguntou: tu diz-me
o teu nome soberano?
“Meu nome é Gercina D"alva
sou neta do “oceano
minha mãe é uma serra
não pertenço ao gênero humano

_Eu durmo ao pé desta fonte
sobre esta relva macia
esta serpente me adora
e aquela cotovia.
leva notícia de mim
traz-me o recado do dia

Disse Bamam: eu te juro
em nome do Criador
desde que ouvi tua voz
que rendi-me ao teu amor
perante à Imagem tua
coisa alguma tem valor

Disse Gercina: teu pai
é um monarca orgulhoso
se tu fores lá comigo
teu estado é perigoso
olha que sou uma fada
teu pai um rei presunçoso

Disse Bamam: Inda ele
mandando me degolar
o meu último pedido
é que me vão sepultar
onde minha sepultura
tu a possas visitar

Pois bem, respondeu a fada
vamos entrar em questão
porém primeiro que tudo.
te faço declaração
amor exige três coisas
firmeza, gênio e ação

Disse Bamam: eu sem ti
não tenho amor ao viver
encerrado nos teus braços
Oh! fada, quero morrer!
porque no céu de teus olhos
minha'alma terá prazer!

A fada disse: pois bem
eu agora vou dormir
una dez ou quinze minutos
tenho precisão de Ir
falar ao deus do amor
você fique até eu vir

Ali reclinando o corpo
sobre a relva adormeceu
o leão se levantou
e a luz resplandeceu
um nevoeiro cobriu-a
ela desapareceu

Quinze minutos depois
Gercina se apresentou
e disse; eu fui a Cupido
ele me autorizou
hei de casar-me contigo
pois ele me ordenou

Chegando a fada e o príncipe
o rei ficou como um cão
mandou que a fada voltasse
pôs o príncipe na prisão
a fada inda quis falar-lhe
ele não deu-lhe atenção

O príncipe foi para o cárcere
de lá disse: adeus Gercina
te peço que não esqueça
dum ser que não teve sina
a quem só herdou no mundo
O que a desgraça destina

Então a fada lhe disse:
podes ficar descansado
antes de dar meia-noite
tu por mim serás levado
no reino do Trovador
teu trono está preparado

E mandou dizer ao rei
que vinha buscar Bamam
e ficasse na certeza
não achá-lo de manhã
a demora era só ela
Ir onde estava a irmã

Um conselheiro do rei
disse: sua majestade
deve está bem prevenido
não use facilidade
mande guarnecer o cárcere
que nós temos novidade

O rei passou logo ordem
os batalhões se formassem
e ao redor da prisão
todos ali pernoitassem
uma praça não dormisse
com cautela vigiasse

Gercina tinha uma irmã
era outra fada também
afilhada da Aurora
prima do gênio Solém
tinha força de mil gênios
e não temia a ninguém

A fada em cinco minutos
foi aonde estava Adrina
então ela perguntou-lhe:
tu o que queres, Gercina?
se desejas alguma coisa
vejas logo o que destina

Disse a fada: minha irmã
quero a tua proteção
preciso soltar um preso
que o rei botou na prisão;
a fada lhe disse: estou
à tua disposição

—Tens amor a este príncipe
que o rei tem encarcerado?
—Tenho, respondeu Gercina
esse príncipe é meu amado
foi perdido onde habito
e ficou apaixonado

—Eu fui levá-lo ao pai dele
e este me desprezou
tratou-me como um criado
e nem para mim olhou
apenas me disse: volte...
a Baman encarcerou

Adelina chamou o gênio
a disse. quero que vá
no reinado de Dom Crispo
traga um príncipe que tem lá
e não volte aqui sem ele
pois só você o traz cá

Disse o gênio: sim senhora
já volto, pode esperar,
chegou o gênio no cárcere
sem nada o incomodar
todas as telhas do castelo
ele botou-as no mar

Tinha cinco mil soldados
rondando toda cidade
porque o rei esperava
uma grande novidade
pôs nas portas da prisão
o selo da majestade

Ordenou que na cidade
de noite ninguém entrasse
ainda vindo de longe
sendo de noite voltasse
e na prisão de Bamam
pessoa alguma chegasse

O gênio entrou na cidade
mais sutil do que o ar
passou pelo meio da força
e ninguém o viu chegar
os batalhões acordados
e não o viram passar

O príncipe estava dormindo
O gênio botou-o no braço
saiu voando com ele
em procura do espaço
o príncipe ia ressonando
num majestoso regaço

A fada estava chorando
quando o gênio chegou
trazendo Bamam nos braços
ali mesmo o entregou
—Que pretendes mais de mim?
o gênio lhe perguntou

Disse Gercina: eu agora
preciso de outro favor
quero que leve Bamam
no reino do Trovador
bote no templo do riso
Juntinho do deus do amor

As seis horas da manhã
o rei vestiu-se a saiu
foi aonde estava o filho
somente as paredes viu
a coberta do castelo
não se sabe onda caiu

ficou como um louco
sem saber o que fizesse
interrogava os soldados
não teve um que soubesse
as portas estavam seladas
como se nada desse

Estava o rei em desespero
num estado de doidice
chorava em praça pública
sem achar quem descobrisse
quando um vassalo o chamou
e ocultamente disse:

Disse o vassalo: eu conheço:
uma velha matemática
tem força para dois gênios
sabe de tudo e tem prática
sua alteza só consegue
se for por meio de mágica

O rei mandou chamar ela
perguntou-lhe se podia
resolver aquele enigma
que ali não conhecia
a velha pensou um pouco
e diese que resolvia

A velha tirou do seio
um pequeno talismã
dando 3 pancadas nele
chamou o gênio Oriam
perguntou; qual era a fada
que tem o príncipe Bamam?

Disse o gênio: é a fada
que é filha dos horizontes
é neta do oceano
rainha de todos os montes
é tesoureira do sol
habita entre duas fontes

— Aonde o príncipe Bamam
«ela foi o esconder?
então respondeu o gênio:
isso não posso dizer
a senhora tem um quadro
faz a mágica e há de ver

A velha tirou um quadro
e tirou dele uma flor
tirou da flor um espelho
viu nele o deus do amor
onde viu Bamam dormindo
no reino do Trovador

No mesmo quadro ela viu
Bamam, Cupido e Gercina
num leito de madrepérola
uma nuvem purpurina
estava por cima do leito
fazendo vez de cortina

O rei perguntou a ela
não poderás fazer nada?
a velha disse vou ver:
se obtenho uma cilada;
o rei olhou no espelho
e viu o príncipe e a fada

A velha fez outra mágica
e outro gênio chamou
depois de 4 segundos
um gênio gigante entrou
perguntou: o que deseja?
às suas ordens estou

Disse a velha ao gênio,
no reino do Trovador
entre no templo do riso
aos pés do deus do amor
tem uma flor e om príncipe
traga o príncipe o deixe a flor

— Mas veja como vai lá
porque a flor é a fada
se uma estrela de luz verde
não estiver apagada.
o senhor não volte, entre
aquela é a luz da guarda

Cinco minutos depois
o mesmo gênio voltou
trazendo o príncipe dormindo
na corte do rei entrou
o rei quando viu o filho
como criança chorou

A fada quando acordou
não achou Bamam no leito
“exalou tantos suspiros
que quase ferem-lhe o peito
o procurou no espaço
não podia dar mais jeito -

E disse ao deus do amor:
tornaram a roubar Bamam!
levantou-se na mesma hora
foi aonde estava a irmã
Adrina disse; eu te juro
que mando vê-lo amanhã

O rei perguntou a velha
se a fada voltaria
Volta com toda certeza
antes que amanheça o dia;
ali tudo entristeceu
perguntando o que fazia

Ela perguntou ao gênio:
você vai onde eu mandar?
—Pois não, respondeu o gênio
eu não posso lhe faltar;
=—pois então leve esse príncipe
bote onde eu mandar botar

—Você vai pelo espaço
quando passar pela lua
vê uma estátua de pedra
que está com uma espada nua
daí logo avistará
as muralhas duma rua

—Antes de entrar na cidade
passa por um campo louro
atravessa o rio côr de rosa
verá um templo de ouro
no templo achará um velho
dono daquele tesouro
-
Então você diga a ele
que eu mando lhe dizer
que ele guarde asse príncipe
até eu mandá-lo ver
diga que gênio nenhum
disso não deve saber

A fada fez uma mágica
viu o gênio conduzindo
levava ele nos braços
o príncipe ia dormindo
nas elevações do sonho
chamou por ela sorrindo

Gercina tresvaliando
saiu louca a procurar
percorreu todo o espaço
entrou no centro do mar
perguntava até no vento
ninguém disse; eu vi passar

Passando no mar das lágrimas
viu uma velha falua
dentro dela estava um gênio
esperando à ordem boa
que disse: o príncipe Bamam
estás nas montanhas da lua

Gercina lhe perguntou:
tu sabes onde ela está?
—Eu sei, respondeu o gênio
mas não há quem possa ir lá
o deus do ouro tem ele
e não deixa ele vir cá

O gênio disse: a senhora
faça o que agora lhe ensino
vá ao Império das horas
que lá encontra o destino
ela é quem dá a sentença
desde ao grande ao pequenino

A fada foi ao destino
ver o que ele faria
porem o destino disse
aquilo não lhe cabia
mandou que fosse ao tempo
que o tempo resolvia

O tempo espera por tudo
pelo mal e pelo bem
só protege a quem merece
só dá razão à quem tem
tem poder absoluto
não presta couta a ninguém

Não chove fora do tempo
antes dele nada existe
há tempo para sorrir
tempo para viver triste
há tempo que tudo afrouxa
tempo que tudo resiste

Foi ela ao tempo e ele disse
que tivesse paciência
depois o tempo mandou-a
falar com a diligência
a diligência mandou-a
aonde estava a ciência |

Ela foi à ciência
ela lhe disse também:
quem trabalha Deus ajuda
quem faz pela vida tem
veja se pode levar
não espere por ninguém

Gercina pensou um pouco
foi onde estava a Irmã
e pediu-lhe que mandasse
chamar o gênio Oriam
para ver se dava um jeito
de roubar o príncipe Bamam

- Eis aqui o seu escravo,
o gênio disse ao entrar
Adrina lhe disse: gênio:
nós te mandamos chamar
para ver se dás um jeito
no que não podemos dar

- Para roubares Bamam
do poder do deus do ouro
qu'está com mais segurança
do que se tosse um tesouro;
—Mas onde é que ela tem?
_ Na corte do campo louro

_ Sei onde é, disse o gênio
é tão difícil trazer
o deus do ouro tem ele
nem deixa ninguém o ver;
disse Adrina: eu digo já
o que se deve fazer

_ Você ao sair daqui
vá primeiro ao mar da luz
lá achará esperando
um peixe que o conduz
e o levará ao palácio
do deus das águas azuis

—-Você vê uma cidade
em roda toda murada
vá a um portão que tem
uma placa de esmeralda
nessa placa você vê
uma moça retratada

- Ali você achará
o pedaço duma lança
com ele bata na porta
sai uma pombinha mansa
você aí diz que chame
— Anjo da esperança

-—E um pombo verde-roxo
o bico sobre-dourado
tem três estrelas no peito
fala desembaraçado
faça continência a ele
dê-lhe o seguinte recado:

—Diz à rainha dos montes
a quem tenho por senhora
a irmã da fada Adrina
afilhada da aurora
mandou em nome das fadas
trazer-lhe um recado agora

Que ao Deus do amor fosse
ou mandasse um portador
ver um príncipe que tem lá
no reino do Trovador
carregado por um gênio
dos pés do deus do amor

-Desse o príncipe, disse o pombo
eu cá já tinha sabido
que a velha Petazani
era quem o tinha trazido
no reino do Deus do ouro
conserva ele escondido

— Vamos lá, eu vou chamar
o deus do ouro cá fora
e você entre escondido
e com ele vá embora
entre sutil como o ar
e tenha pouca demora

Assim mesmo fez o gênio
como o pombo tinha dito
pegou Bamam e voou
ganhou logo o infinito
quando o deus do ouro ouviu
o sinal pelo apito

O deus do ouro exclamou:
o que foi que deu-se agora!?
deixou o pombo na sala
e correu na mesma hora
o anjo da esperança
também voou, foi embora

O gênio trouxe Bamam
entregou ele a Gercina
essa cheia de alegria
deu parte logo a Adrina
ordenou a todos aos pássaros
cantassem pela campina

- Adrina chamou um gênio
que foi como embaixador
levar agradecimentos
no reino do Trovador
e todo aquele ocorrido
contasse ao deus do amor

E que dissesse a Cupido
que lá estava em andamento
para nas noites de festa
contratarem o casamento
as testemunhas dadas
seriam a lua e o vento

Gercina mandou fazer
em casa do sete estrelo
um gorro para Bamam
o sol foi quem veio trazê-lo
até as aves do céu
admiravam-se em vê-lo

Mandou fazer para ela
um chapéu cor do luzeiro
um vestido cor do céu
um véu cor do nevoeiro
uns sapatinhos de cristal
um retrato de um guerreiro

Bamam vivia encantado
ao lado.da sua bela
passava dias inteiros
só mirando pera ela
passava o dia no colo
dormia nos braços dela

Naquele amor casto e puro
desfrutavam a existência
ele honrado como o crédito
ela pura como a essência
porque juraram um do outro
respeitar a inocência

Dormiam como dois anjos
pois nenhum tinha defeito
porque na pureza d'alma
tem fé, virtude e respeito
o selo do juramento
não saia ali do leito.

Petazani, uma velha
que ficou encarregada
de ter o príncipe Bamam
muito escondido das fada
quando soube deste fato
gemia desesperada

Ela sabia: que havia
uma montanha no mar
onde havia um caixão
muito difícil de achar
onde tinha um gênio preso
ninguém podia o soltar

Calculou Petazani
que aquele gênio do mar
ela soltando teria
um amigo singular
porém não achou ninguém
que quisesse lhe ajudar

Puxou um quadro que tinha
viu o caixão onde estava
O caixão era um mármore
que nem o tempo gastava
e tinha um selo na tampa
que só a velha tirava

O marido dessa velha
foi um grande feiticeiro
o espírito de mais força,
o mágico mais verdadeiro
a fada da meia-noite
o transformou num oiteiro

Depois dela o encantar
fez vir um grande vulcão
ardeu o oiteiro todo
dez anos houve explosão
ele morreu e deixou
esse gênio na prisão

Como ele prendeu o gênio
não havia quem prendesse
e o selo do caixão
não tinha quem conhecesse
só quem abria era a velha
mas depois que ele morresse

A velha fez uma mágica
veio um gênio e perguntou:
onde vais, Petazani?
ela respondeu: eu vou
buscar um gênio no mar
que meu marido deixou

E foi buscar o caixão
arrastou-o para fora
dizendo; com esse aqui
eu serei feliz agora
esse gênio se soltando
eu devo sentir melhora

Foi ver as chaves que tinha
dezesseis tampas, abriu
disse umas palavras mágicas
o gênio ergueu-se e saiu
prostrou-se aos pés dela e disse:
bendita quem me acudiu!

-Petazani, servirei-te
em tudo que precisar
conheço o espaço todo
conheço o fundo do mar
sei o segredo da noite:
tenho influência no ar
— Domino 14 gênios
sou membro duma anarquia
só não posso fazer nada
aos deuses da astronomia
tenho a chave que abre e fecha
o pino do meio-dia

Disse-lhe Petazani:
já sei que você conhece,
vou lhe pedir uma coisa
quero ver se me obedece
para me ajudar na causa
que tenha mais interesse

Petazani com cuidado
ao gênio tudo contou
tudo que o rei lhe pediu
o príncipe que ela ocultou
a falsidade do gênio
o que ela fez desmanchou

A velha puxou do seio
uma placa muito fina
deu ao gênio ele molhou-a
numa água cristalina
nela viu o céu das flores
no céu, Bamam e Gercina

Gercina andava de braço
sorrindo com seu amante
uma rosa príncipe-negro
abria naquele instante
ela entreteu-se na flor
o príncipe seguiu adiante

O gênio estava escondido
transformou-se em bugari
Bamam foi cheirar a flor
- adormeceu mesmo ali
O gênio no mesmo instante
levou-o a Petazani

Quando Gercina lembrou-se
de Bamam, o procurou
chamou-o, não respondeu
baixou a face e chorou
- Quanto sou triste no mundo!
banhada em pranto exclamou

-Juro por meu coração
e pela ordem da fada
Se não achar mais Bamam
não amarei mais a nada
irei para a solidão
lá morrerei isolada

Ali seguiu para casa
Pegando num talismã
deu três pancadas nele
chegou o gênio Oriam
ela disse: ganhe o mundo
até encontrar Bamam

O gênio tinha uma areia
botou na palma da mão
cobriu com um pó encarnado
fez um sino salomão
então viu dentro do sino
quem foi o autor da traição

Viu que foi Petazani
que tinha mandado ver
mas onde tinha botado
foi impossível saber
a velha fez uma mágica
ninguém podia o trazer

Adrina tinha uma lâmpada
que o padrinho tinha dado
nela se via o presente
o futuro e o passado
mas a velha prevenida
pôs aquilo embaraçado

Adrina riscou na lâmpada
chegou o gênio vulcão
— Vá queimar aquela velha
bote a cinza num caixão
leve ao fundo do mar
e dê ao gênio dragão

A velha estava dormindo
o gênio vulcão chegou
transformou-se num vulcão
a velha devorou
deu a cinza ao dragão
no mesmo instante voltou

-—"Tudo pronto, disse o gênio
entreguei a cinza lá;
disse a fada: não soubeste
aonde Bamam está?
—Não senhora, disse o gênio
e ninguém mais saberá .

Gercina procurou ele
em todos reinos que haviam
falava a todos os gênios
mas todos esses diziam
que era um mistério impossível
que eles não conheciam

Disse a deusa das águas:
você hoje mesmo vá
a serra da Neve Negra
Abadalã mora lá
é um mágico adivinhão
lhe diz onda o príncipe está

Foi ela a Abadalã
perguntou o velho a fada:
mas sonda está a cinza
da velha que foi queimada?
disse a fada; um dragão tem
no ventre depositada

—Pois bem, disse ela a ele
saia daqui e vá lá
converse com o dragão
pois ele lhe explicará
“pole só as cinzas da velha
dizem aonde o príncipe está

Gercina foi ao dragão
chegou lá muito sentida
disse ao dragão: você seu
uma viagem perdida
só se você encontrasse
o frasco d'água da vida

— Você encontrando a água
fica tudo salvo aí
eu bebendo um pingo dela
dou vida a Petazani:
ela fica viva e moça
descobrirá tudo aqui

—Vá ao velho Abadalã
diga que eu mando dizer
que ensine a Água onde está
que ele deve saber
ele lhe ensinará
da forma que há de fazer

Volta ela a Abadalã
o velho disse: eu vou ver
Eu sei onde o frasco está
porém não posso trazer
mando um gênio, mas não sei
se ele quer me obedecer

E tirando um velho cinto
que trazia na cintura
a terra deu um estalo
fazendo grande abertura
apareceu-lhe um gênio
de uma assombrosa figura

- Pronto mestre Abadalã
disse o gênio quando entrou
eu sou necessário aqui?
às suas ordens estou!
o velho disse: preciso;
pergunta o gênio: onde vou?

O velho aí perguntou-lhe:
conhece o reino imortal?
aonde tem a semente
da árvore do bem e do mal?
onde de todos os seres
se vê o original?

—Não conheço, disse o gênio
mas indo posso acertar
porém um gênio me disse
que não se podia entrar;
disse o velho: indo com jeito
é fácil de ir e voltar

Você antes de chegar
vê um monte de diamantes
vê cinco livros de pedra
em duas velha estantes.
vê logo escrito num livro;
"Reclamação dos Amantes»

—Repare que mais adiante
à direita da estrada
tem uma moça da ouro
apontando para a entrada
não passe na frente dela
se ela estiver acordada

Você passando por ela
adiante vê um portão.
bem encostado no muro
acha dormindo um leão
com uma pena na boca
e um tinteiro na mão

-— Tire o tinteiro e a pena
que ele não chegue a sentir
faça um sino salomão
o portão há de se abrir
diga baixinho ao portão:
só feche quando eu sair

—Porém, veja como vai
o lugar é perigoso
devido ao rei dos leões
um gênio muito forçoso
a serpente mãe das trevas
é um cão de fogo horroroso

—Você passará por cima
de um menino ressonando
depois encontra uma velha
assentada cochilando
é a mãe do deus do sono
a está ali descansando

—E o menino é o sono
que chegou muito enfadado
enquanto a velha cochila
ele dorme descansado
adiante está o descuido
esse tem pouco cuidado

— Passe, entre num jardim
numa roseira amarela e
onde tem uma serpente
dormindo enroscada nela
procure que encontrará
três chaves em poder dela

—Tire, as três chaves e siga
tem adiante outro portão
passe por ele e depois
faça um sino salomão
quando avistar outra porta
faça três cruzes no chão

-—Você enguice as 3 cruzes
vê logo adiante outra porta
vê à direita um retrato
duma deusa que está morta
não preste atenção aquilo
que nada ali lhe importa

--Adiante tem um caixão
todo forrado de cetim
aquele ali você abre
com a chave de marfim
ainda tem uma caixa
presa por um trancelim

- Meta a chavinha na porta
nela encontra uma caixinha
essa eu não sei de que é
.gênio nenhum adivinha
dentro dela encontrará
outra bem pequenininha

—Nela tem um frasco verde
de uma matéria polida
nele vê logo o retrato
de uma moça adormecida
traga-o porque é aquele
o frasco. d'água da vida

—Tudo pronto, disse o velho
o gênio ouvindo voou
com 4 horas depois
em casa com tudo entrou
tirando o frasco do bolso
ao velho tudo entregou

Abadalã deu a fada
e disse: tome que é seu
Gercina no mesmo instante
ali desapareceu
levou a água ao dragão
ele tomou e bebeu

Bebendo: o dragão a água
a velha ressuscitou
olhando para o dragão
seriamente perguntou:
que prêmio, queres dragão?
diz a mim o que te dou

Disse o dragão; eu exijo
coisa muito fina
sou advogado dela
essa coisa me crimina
saber onde está Bamam
o amante de Gercina

Disse a velha: o príncipe está
no reino da meia-noite
O gênio que guarda ele
foi formado de azote
vou chamar agora um gênio
que conhece toda corte

Chamou o gênio Bary
(o que tirou do mar)
e disse: vá ver Bamam:
o gênio; eu vou buscar
depois entrou com o príncipe
e deu ao dragão pra guardar

Gercina no mesmo instante
chegou no fundo do mar
o dragão disse: aqui tem
seu amor pode levar
veja, não roubem mais ele
porque é difícil achar

Gercina levou Bamam
para o céu das primaveras
guarnecido por mil gênios
vigiado por mil feras
para não suceder mais
o que houve em outras eras

A serpente mãe das trevas
depois de ter acordado
Conheceu que no portão
um gênio tinha passado
e viu que a água da vida
o gênio tinha roubado

Fez uma mágica e chamou
o gênio do arrebol
e mandou logo encantar
a fada num girassol
e só dissesse o segredo
ao astro filho do sol

Gercina estava dormindo
tranquila e bem descuidada
quando quis abrir os olhos
foi tarde, estava encantada
era um pé de girassol
em vez de ser uma fada

E assim passou mil anos
transformada numa flor
mirando os raios do sol
exposta a todo rigor
pensando só em Bamam
chorando por seu amor

Ela exclamava em soluço
quando despertava à aurora:
oh! sol não te. compadeces
de uma alma que tento chora
que mil anos está ausente
dá prenda que tanto adora?!

—Não vês que sou uma fada
me transformei num arbusto?
cada ano tenho um sonho
cada dia tenho um susto
transformada nessa flor
vivo aqui com tanto custo!

-To és um astro orgulhoso
só tens império e ardor
eu sou um corpo sem vida
árvore que perdeu a flor
eu não conheço ventura
tu não conheces o amor!

Gercina nesse momento
sentiu a luz dum farol
quando viu no firmamento
o astro filho do sol
o astro conheceu logo
que não era girassol

O astro aí disse a ela:
tu não és flor, sim, és fada
a serpente mãe das trevas
foi quem te fez a cilada;
disse Gercina: é exato
eu sou mal aventurada

-— A flor da minha existência
nos pés da tristeza rola
murcha sem cor, sem aroma
não abre uma só corola
só as trevas afagam elas
só o chorar me consola!

“Se há vida, não vivi
se há delicia, não gozei
se há fortuna, ignoro
se existe, prazer, não sei
só conheci abandono
somente desprezo achei

O astro chamou o gênio
mandou que a desencantasse
o gênio desencantou-a
mandou ela levantasse
deixasse a forma de flor
e em mulher se formasse

Gercina ali levantou-se
Com a mesma formosura
os mil anos não puderam.
abater sua candura
a ponto de admirá-la
até a própria natura

Ali o filho do sol
deu-lhe um cartão de coral
escrito com letras de ouro
para o rei do Vendaval
recomendando que o rei
não tratasse a fada mal

O astro disso; ele tem
uma riquíssima estante
com a fechadura de pérola
e a chave de brilhante
nessa estante tem um quadro
no quadro está seu amante

Pegue esse anel, disse o astro
para ninguém lhe ofender
precisando risque nele
que um gênio há da aparacer
por ele pode mandar
tudo que quiser fazer ,

Ela foi ao Vendaval
a lá foi bem recebida
O rei lhe perguntou:
tu és a fada perdida
que mandou ver por um gênio
o frasco d'água da vida?

—Sou eu, respondeu Gercina
a fada da cordilheira
criei gênio das fontes
fui quem dei seiva a roseira.
fiz a visão da montanha
dei alma a brisa fagueira

-Conheces quem é teu pal?
o Vendaval perguntou
conheço, respondeu ela
o grande que me gerou
o horizonte é meu pai
uma fonte me criou

O rei abriu uma gaveta
aonde um quadro existia
no lugar do quadro tinha
um bilhete que dizia
eu tiro Bamam daqui
«senão inda o perco um dia>

Disse o rei; o teu amante
estava aqui, mas foi embora
não posso lhe ensinar
aonde ele pára agora
a deusa da madrugada
tem ele onde o adora

Ela riscou o anel
e logo o gênio chegou
-Estou pronto, disse o gênio
ás suas ordens estou
sou escravo deste anel
onde a senhora riscou

—Vá ao reino dos passarinhos
diga que me empreste as penas
na borboletas me emprestem
asas azuis e serenas
as rosas emprestem as cores
tome o cheiro às açucenas

Tome a alvura do dia
a sutileza do ar
quero a beleza da lua
as revoluções do mar;
tudo isso o gênio trouxe
sem cousa alguma faltar

“Quero o segredo da noite
a falsidade dos vampos
o enigma da lagarta
os olhos dos pirilampos;
transformou-se, em borboleta.
lá foi pernoitar nos campos

Riscou o anel de novo
despertou o gênio lá
esse veio e perguntou-lhe:
para que chamou-me cá?
- Para você descobrir
aonde Bamam está

-—Bamam está muito oculto,
o gênio lhe respondeu
nos labirintos da noite
uma deusa o escondeu
um gênio faz guarda a ele
recomendado a Morfeu

Gercina fez uma mágica
aí ficou transformada
numa borboleta linda
o corpo de esmeralda
com duas asas sublimes
de uma cor verde dourada

E foi ter nos labirintos
lá viu Bamam sobre um trono.
cercado por uma auréola
de um lado o deus do sono
escrito num diadema:
“este príncipe não tem dono»

Riscando de novo o anel
que o astro tinha lhe dado:
o gênio chegou de novo
disse Gercina: cuidado
quero conseguir um trama
que estou com ele estudado

Então disse ela ao gênio:
se vira num talismã
eu entreto o deus do sono
você carregue Bamam
vá logo depositá-lo
aonde está minha irmã

Quando o deus do sono viu
a borboleta chegou
com uma forma esquisita
que Morfeu se admirou
devido a ela também
0 guarda se descuidou

O talismã que era um gênio
ai se desencantou
o vigia se entreteu
e Morfeu se descuidou
o gênio levou Bamam
a borboleta voou .

Quando o deus do sono viu
a desgraça acontecida
conheceu que a borboleta
era uma fada fingida
foi quem fizera a tragédia
do frasco d'água da vida

O deus do sono escreveu
a deusa da madrugada
dizendo todo ocorrido
da borboleta encantada
que veio iludindo ele
não dizendo que era fada

A fada foi com Bamam
ao Reino do “Trovador
causou no templo do riso
nos pés do deus do amor
as testemunhas de ambos
foram o sol e uma flor

Quem vai de encontro do amor
luta e não pode vencer
pois não há força que faça
amor desaparecer
amor é como o tempo
não há quem o faça morrer

Um rio caudaloso seca
falta-lhe chuva,a água afasta
a pedra o tempo destrói
se acaba a cousa mais vasta
gasta-se O Corpo que ama
mas o amor não se gasta

Mil cento e vinte anos
viveram no abandono
porém quem ama tem força
vence fome, sede e sono
o amor nasce no mundo
já destinado a seu dono

Cupido, o deus do amor
celebrou o casamento
fizeram o altar das ondas o
veio a chuva, o sol e o vento
as nuvens o as estrelas
mostraram o contentamento

Compareceu neste ato
a aragem matutina
os montes soltavam ecos
que reboavam a colina
os arvoredos gritavam:
viva Bamam e Gercina

Naquela noite se via
as nuvens se debandarem
as águas dos rios crescerem
os montes se levantarem
os arvoredos sorrirem
as grandes pedras cantarem

Iluminou-se O espaço
reverdeceu a campina
as nuvens lhe ofereceram
notas de uma ária divina
foi preparado um festim
oferecido a Gercina

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