historia do boi misterioso - versos de cordel

Ivaldo Fernandes
revista de cordel historia do boi misterioso.


Leitor vou narrar um fato 
De um boi da antiguidade 
Como não se viu mais outro 
Até a atualidade
Aparecendo hoje um desses 
Será grande novidade.

Duraram vinte e quatro ano 
Nunca ninguém o pegou 
Vaqueiro que tinha fama 
Foi atrás dele chocou 
Cavalo bom e bonito. 
Foi lá porém estancou.

Diz a história: ele indo 
Em desmedida carreira 
Acaso enroscava um chifre 
Num galho de catingueira 
Conforme fosse a vergôntea 
Arrancava-se a touceira.

Ele nunca achou riacho 
Que de um pulo não saltasse 
E nunca formou carreira 
Que com três légua cansasse 
Como nunca achou vaqueiro 
Que em sua cauda pegasse.

Muitos cavalos de estima 
Atrás dele se acabaram
Vaqueiros que em outros campos 
Até medalhas ganharam 
Muitos venderam os cavalos
E nunca mais campearam.

É preciso descrever. 
Como foi seu nascimento 
Que é para o leitor poder 
Ter melhor conhecimento 
Conto o que contou-me um 
velho Coisa alguma eu acrescento.

Já completaram trinta anos 
Eu estava na flor da idade. 
Uma noite conversando 
Com um velho da antiguidade 
Em conversa ele contou-me 
O que viu na mocidade.

Foi em mil e oitocentos 
E vinte e cinco este caso. 
Uma época em que o povo 
Só conhecia o atraso 
Quando a ciência existia 
Porém oculta num vaso.

No sertão de Quixelou 
Na fazenda Santa Rosa 
No ano de vinte e cinco- 
Houve uma séca horrorosa 
Ali havia uma vaca Chamada "Misteriosa".

Isso de Misteriosa 
Ficou o povo a chamar 
Porque um vaqueiro disse 
Indo uma noite emboscar 
Uma onça na carniça 
Viu isso que vou narrar.

Era meia-noite em ponto 
O campo estava esquisito 
Havia até diferença 
Nos astros do infinito 
Nem do nambu nessa hora 
Se ouvia o saudoso apito.

Dizia o vaqueiro: eu estava 
Em cima dum arvoredo 
Quando chegou esta vaca 
Que me causou até medo 
Depois chegaram dois vultos 
E ali houve um segredo.

O vaqueiro viu que os vultos 
Foram de duas mulheres 
Uma delas disse à vaca 
Parte por onde quiseres 
Eu protegerei a ti
E aos filhos que tiveres..

Ali o vaqueiro vim 
Um touro preto chegar 
Então disseram os vultos 
São horas de regressar 
Disse o touro montem em mim 
Que o galo já vai cantar.

Ai clareou a noite 
O vaqueiro pôde ver 
Eram duas moças lindas 
Que mais não podia haver 
O touro era de uma espécie 
Que ele não soube dizer.

Ele então ouviu montar 
Viu quando o touro saiu 
A vaca se ajoelhou 
E atrás dele seguiu
Depois veio a onça e ele 
Atirou-lhe ela caiu.

Por isso teve essa vaca. 
Dal em diante esse nome. 
Uns chamavam-na feiticeira 
Outro a vaca lobisomem 
Diziam que ela era a alma 
De um boi que morreu à fome. 

O coronel Sezinando 
Fazendeiro dono dela 
Se informando da história 
Não quis que pegassem ela 
Disse que o morador dele. 
Não tirasse leite nela.

No ano de vinte e quatro 
Pouca chuva apareceu 
Em todo sertão do 
Norte A lavoura se perdeu 
Até o próprio capim, 
Faltou chuva não cresceu.

Então entrou vinte e cinco 
O mesmo verão trincado 
Morreu muita gente à fome 
Quase não escapa o gado 
Escapou alguma rés
Lá num ou noutro cercado.

A vaca misteriosa
Não houve mais quem a visse 
O dono não importava 
Que ela também sumisse 
Podia até pegar fogo, 
Que na fumaça subisse.

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