Leitor vou narrar um fato
De um boi da antiguidade
Como não se viu mais outro
Até a atualidade
Aparecendo hoje um desses
Será grande novidade.
Duraram vinte e quatro ano
Nunca ninguém o pegou
Vaqueiro que tinha fama
Foi atrás dele chocou
Cavalo bom e bonito.
Foi lá porém estancou.
Diz a história: ele indo
Em desmedida carreira
Acaso enroscava um chifre
Num galho de catingueira
Conforme fosse a vergôntea
Arrancava-se a touceira.
Ele nunca achou riacho
Que de um pulo não saltasse
E nunca formou carreira
Que com três légua cansasse
Como nunca achou vaqueiro
Que em sua cauda pegasse.
Muitos cavalos de estima
Atrás dele se acabaram
Vaqueiros que em outros campos
Até medalhas ganharam
Muitos venderam os cavalos
E nunca mais campearam.
É preciso descrever.
Como foi seu nascimento
Que é para o leitor poder
Ter melhor conhecimento
Conto o que contou-me um
velho Coisa alguma eu acrescento.
Já completaram trinta anos
Eu estava na flor da idade.
Uma noite conversando
Com um velho da antiguidade
Em conversa ele contou-me
O que viu na mocidade.
Foi em mil e oitocentos
E vinte e cinco este caso.
Uma época em que o povo
Só conhecia o atraso
Quando a ciência existia
Porém oculta num vaso.
No sertão de Quixelou
Na fazenda Santa Rosa
No ano de vinte e cinco-
Houve uma séca horrorosa
Ali havia uma vaca Chamada "Misteriosa".
Isso de Misteriosa
Ficou o povo a chamar
Porque um vaqueiro disse
Indo uma noite emboscar
Uma onça na carniça
Viu isso que vou narrar.
Era meia-noite em ponto
O campo estava esquisito
Havia até diferença
Nos astros do infinito
Nem do nambu nessa hora
Se ouvia o saudoso apito.
Dizia o vaqueiro: eu estava
Em cima dum arvoredo
Quando chegou esta vaca
Que me causou até medo
Depois chegaram dois vultos
E ali houve um segredo.
O vaqueiro viu que os vultos
Foram de duas mulheres
Uma delas disse à vaca
Parte por onde quiseres
Eu protegerei a ti
E aos filhos que tiveres..
Ali o vaqueiro vim
Um touro preto chegar
Então disseram os vultos
São horas de regressar
Disse o touro montem em mim
Que o galo já vai cantar.
Ai clareou a noite
O vaqueiro pôde ver
Eram duas moças lindas
Que mais não podia haver
O touro era de uma espécie
Que ele não soube dizer.
Ele então ouviu montar
Viu quando o touro saiu
A vaca se ajoelhou
E atrás dele seguiu
Depois veio a onça e ele
Atirou-lhe ela caiu.
Por isso teve essa vaca.
Dal em diante esse nome.
Uns chamavam-na feiticeira
Outro a vaca lobisomem
Diziam que ela era a alma
De um boi que morreu à fome.
O coronel Sezinando
Fazendeiro dono dela
Se informando da história
Não quis que pegassem ela
Disse que o morador dele.
Não tirasse leite nela.
No ano de vinte e quatro
Pouca chuva apareceu
Em todo sertão do
Norte A lavoura se perdeu
Até o próprio capim,
Faltou chuva não cresceu.
Então entrou vinte e cinco
O mesmo verão trincado
Morreu muita gente à fome
Quase não escapa o gado
Escapou alguma rés
Lá num ou noutro cercado.
A vaca misteriosa
Não houve mais quem a visse
O dono não importava
Que ela também sumisse
Podia até pegar fogo,
Que na fumaça subisse.