Quem é o autor?
Crispiniano Neto é poeta popular e jornalista. Tem 11 livros, um CD e
mais de 120 folhetos publicados. Atualmente é presidente da Fundação José
Augusto e um dos principais articuladores dos cordelistas na retomada da
importância desse gênero literário essencialmente brasileiro.
01
Quero que as musas me inspirem
Na arte de cordelista,
Para descrever a história
De um político e jornalista,
Professor e diplomata,
Bom poeta e romancista!
02
Falo de Gilberto Amado,
Um sergipano da gema
Que brilhou no mundo inteiro
Tendo o saber como lema;
Foi um campeão na prosa;
Foi bem melhor no poema!
03
Era Gilberto de Lima
Azevedo Souza Ferreira
Mais Amado de Farias,
Diplomata de primeira
Que se foi grande nome
Foi bem maior na carreira.
04
Nasceu em 07 de maio,
No ano de oitenta e sete,
O século era dezenove
E morreu em 27
De Agosto de meia nove (69)
Conforme deu na manchete.
05
Na cidade de Estância
Lá no solo sergipano
No extremo sul do Estado
Perto do solo baiano
Gilberto Amado nasceu
Pra de Deus cumprir um plano.
06
Foi primeiro dos quatorze
Filhos de um casal decente:
Melchisedech e Ana,
Exemplo de boa gente,
Que logo que viu que o menino
Era vivo e inteligente.
07
Fez os estudos primários
Numa cidade vizinha
Por nome de Itaporanga,
Onde boa escola tinha;
Depois seguiu pra Bahia
Pra seguir na mesma linha.
08
Ali estudou Farmácia,
Mas viu que não tinha jeito
Para pipeta e proveta,
Reação, causa e efeito...
Partiu para Pernambuco
Onde foi cursar Direito.
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Mesmo ainda como aluno
Já mostrou muito sucesso
Chegou a ir pra São Paulo
Representar, num Congresso,
Os seus colegas de curso
Que nele viram progresso.
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Seu discurso progressista,
Sua mente especial,
Sua sensibilidade,
Seu currículo magistral
Tornaram-lhe catedrático
Para o Direito Penal.
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Logo ao terminar o curso
Que concluiu com louvor,
Aplaudido por colegas
Bem visto pelo reitor,
Mudou direto de lado
De aluno pra professor.
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Foi um professor brilhante,
Pois da matéria sabia.
Também sacava de História,
De Arte e Filosofia
Era um mestre em transmitir,
Bamba na Pedagogia!
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E então como professor
Não ficou no trivial
Expandiu os seus saberes
Do modo mais genial,
Se transformando de fato
Num intelectual!
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E já no ano de 10
Foi pra o Rio de Janeiro.
Para o Jornal do Comércio
Fez seu trabalho primeiro
Falando em Luis Delfino,
Victor Hugo brasileiro.
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Se bem que ele já tinha
Começado em Pernambuco
Aonde escutou o último
Dos discursos de Nabuco
E trouxe para seu texto
Da cana o doce do suco.
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Em 05 já escrevia
A secção "Golpe de Vista",
Em torno à obra de Nietsche
Provou ser bom polemista.
Escreveu artigo e ensaio
E provou ser bom cronista.
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Para o "Jornal do Comércio"
No Rio escreveu primeiro
Para o "Mundo Literário"
"O País", "Época", "O Cruzeiro"
E em jornais de São Paulo
Também mostrou seu roteiro.
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N'O Estado de São Paulo'
Foi lido em todo o Brasil,
N'O Correio Paulistano'
Pôs seu texto varonil
E ás vezes até usava
O pseudônimo Áureo ou Gil.
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Mil, novecentos e doze,
À Europa viajou
Viu de perto a Belle Époque,
Com grandes crânios sentou.
Nas fontes do Modernismo
Bebeu, comeu e saldou.
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Em 13 chegou de volta,
E pra mostrar sapiência
Foi ao Jornal do Comércio
Pronunciou conferência
Que mostrou sua grandeza,
Seu talento e inteligência.
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Depois publicou em livro
Tudo quanto relatou:
"A Chave de Salomão"
Logo em 13 publicou
E ainda "Outros Escritos"
Ao seu livro acrescentou;
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Em 15 ele foi de volta
Para o seu torrão natal
Candidatou-se, elegeu-se
Deputado federal,
Projetou-se no cenário
Da política nacional.
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Na câmara, belos discursos
Cresceram seu cabedal,
Falou de instituições
Da política federal
E descreveu, do Brasil,
Nosso Meio Social.
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E por ter se consagrado
Parlamentar de respeito,
No ano de 17
Conseguiu ser reeleito.
Vinte e um e Vinte e quatro,
Ganhou sempre em todo pleito.
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Em 26 deu um tempo
Na política radical
Pra ser diretor da Caixa
Econômica Federal
E em 27 elegeu-se
Pra o Senado Nacional.
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Já como parlamentar
Entrou no mundo que quis;
Falando de relações
Externas deste País
E indo a reuniões
Em Berlim, Roma e Paris!
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Chegando a República Nova
Encetou nova conquista,
Deu um tempo na política
Foi chamado a ser jurista,
Deu cursos, formulou leis
Tendo visão de estadista.
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No ano de 34
Chegou onde mais queria
Para o Itamaraty
Foi prestar consultoria
E entrou de vez no seu mundo
Feliz da Diplomacia.
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Sucedeu a Bevilacqua
Que foi um grande causídico
E assim, da Política externa,
Tornou-se assessor jurídico
Mostrando que seu talento
Era completo e verídico.
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Evoluiu muito rápido
Pois do lugar de assessor
Em 36 assumiu
O cargo de embaixador
Onde mostrou seu talento
Pra ser negociador.
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Do ano de 39
Ao ano 47
Foi ministro na Finlândia
Fazendo o que lhe compete
E o mesmo êxito de sempre
Na Finlândia se repete.
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E logo em 48
Ele sentou-se no trono
Da carreira diplomática...
De uma cadeira foi dono
Na Comissão de Direito
Internacional da ONU.
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Já que Genebra era a sede
Desta nobre comissão
Foi residir na Suíça,
Deu grande contribuição
Ao Direito entre os países
Com muita publicação.
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Não perdeu uma sessão
Da Assembléia Geral
Da ONU, em Nova Yorque,
Desde aquela inicial,
Até a última em que pôde
Botar seus pés no local.
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Somente em 68
Parou de comparecer
E o seu saber jurídico
Nunca deixou de exercer.
Direito Internacional
Passou a vida a escrever.
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Os "Direitos e Deveres
Dos Estados", foi legal,
"Definição de Agressão"
E até "Processo Arbitral",
"Reservas às Convenções..."
Da lei multilateral.
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Foi embaixador no Chile
E na Itália também,
Cumpriu missão na Argentina
Lá se saiu muito bem
E em leis internacionais
Nunca perdeu pra ninguém.
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Presidiu a Comissão
"Diplomacia e Tratados",
Os seus pareceres técnicos
Foram os mais abalizados
E mesmo depois de décadas
Ainda são consultados.
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Do Barão do Rio Branco
Ele herdou o pacifismo.
Herdou de Bolívar, o sonho
De Pátria Grande e heroísmo
Pra consolidar as bases
Do Pan-americanismo.
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Forjou todo o ideário
Da Pátria América Latina
Desde as ilhas caribenhas
À extremidade sulina
Cuba, Guianas, Peru,
Brasil, Chile e Argentina.
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América de Zé Martí,
De Atahualpa e Guevara,
De Sandino e Tiradentes
De Zumbi, de Victor Jara,
De Farabundo e Allende
Sem águia que nos separa!
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Um pan-americanismo
Com fronteiras sem alertas
Com o portunhol congregando
Tantas culturas libertas
Sem Batman e Drácula sugando
As nossas veias abertas!!!
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No pós-guerra ele assumiu
Elevadíssimas missões;
Demonstrou grande prestígio
Logo em duas comissões
E foi delegado na
Conferência das Nações.
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Essa grande conferência
Foi feita pra se estudar
Qual o poder das nações
Sobre o Direito do Mar
E foi aí que Gilberto
Conseguiu mesmo brilhar.
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Defendia que o direito
Do Estado nacional
Sobre o mar devia ser
Não somente horizontal
Mas também devia ter
Um sentido vertical!
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O Mar territorial
E também o Alto Mar;
Direito a pesca e minérios
À defesa, ao navegar,
Também aos fundos marinhos
E aos céus do mar pra voar!
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Amado sempre dizia
Que neste embate tão duro
Entre o academicismo
E o direito prático e puro
Tinha que ver-se o interesse
Das nações e seu futuro!
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Mas defendia também
Que interesses e ambições
Dos estados não turvassem
As modernas intenções
De forjar civilidade
Pra o futuro das nações!
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Normalmente os diplomatas
Com décadas no estrangeiro
Acabavam se esquecendo
Do jeitinho brasileiro
De ser feliz, ser alegre,
Espontâneo e inzoneiro.
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Mas Gilberto Amado, não.
Sempre voltava ao País,
Por aqui lançava livros,
Brincava e pedia bis
Sem jamais perder a ginga...
Sem medo de ser feliz!
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Transformou-se em grande mito
Com mil estórias contadas
Das anedotas, das lendas,
Das ações inusitadas,
Dos ditos espirituosos,
Das saborosas tiradas!
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Sempre que vinha ao Brasil
Um novo livro lançava;
Sua fama merecida
Crescia e multiplicava
Mas suas lendas e o mito
Cada vez mais se firmava.
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Foi bom na prosa e no verso,
No romance e na memória,
Na crônica se destacou,
No ensaio alcançou glória
E em tudo quanto escreveu
Pôs sentimento e história!
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Como escritor produziu
"A Chave de Salomão",
"Grão de Areia" e "Dias
E "Horas de Vibração",
"Espírito do nosso tempo",
Também "Suave Ascenção",
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"Inocentes e Culpados"
"Interesses da companhia",
Sobre "Assis Chateaubriand"
Escreveu com maestria
Na "Dança sobre o Abismo",
Memórias e Poesia.
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Na redação do Direito
Teve visão analítica
Descreveu muitas minúcias
Do vendaval da política
E em tudo que produziu
Pôs a visão lírica e crítica!
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Maledicência, entreveros,
Valentões pernambucanos,
Amores, paixões platônicas,
O atraso daqueles anos,
Os sonhos da juventude
E o poder dos veteranos.
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Foi quem melhor descreveu
A capital nordestina
Do que sobrou das senzalas
Da Casa Grande assassina,
Dos homens e caranguejos...
Vida e morte Severina.
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Foi Gilberto um homem manso,
Mas também foi agitado.
Nunca levou desaforo
Pra dentro do lar sagrado,
Por isso é que ele foi tanto
Amado quanto odiado!
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No acordo, um lorde inglês,
No agito era um Nabuco;
Às vezes, filósofo sóbrio;
Por vezes, gênio maluco;
Exímio, esgrimindo idéias;
Fatal, usando um trabuco!
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Esse era Gilberto Amado,
Dono de todos conceitos;
Se foi bom na fala mansa
Foi melhor metendo os peitos...
Um ser humano completo
Em qualidade e defeitos!
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Seu nome ficou marcado
Na nossa diplomacia,
Nosso país deve muito
À sua categoria
E à competência mostrada
Em tudo quanto fazia!
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Foi amigo dos amigos;
Brasil foi sua paixão;
Amado amou a si próprio
Bem mais amou à nação,
Irmão da América Latina,
Pai de um mundo mais irmão
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Que a memória de Amado
Nosso Brasil possa amar;
Que Gilberto esteja perto
Do Brasil que vai chegar;
Que os jovens possam seguir
Sua carreira exemplar!!!