Manoel Monteiro
ERA UMA VEZ, é assim
que começa: ERA UMA VEZ
Que todo conto começa,
E, se sempre assim se fez
Não vou fazer diferente
Vou começar lentamente
Contando um conto a vocês.
Pense uma casinha branca
Bem ao lado da estrada
Com o telhado vermelho,
Porta e janela, alpendrada,
Chaminé, céu azulado;
EIS O CENÁRIO MONTADO
Para a história ser contada.
Nessa casinha que está
Logo ali a nossa frente
Morava uma garotinha
Bela, doce, inteligente,
Dessas que alegram o espelho
Era “Chapeuzin” Vermelho
Querida por toda gente.
Ganhou esse nome por
Andar com uma capinha
E um capuz dessa cor,
Esse costume que tinha
De usar capa e capuz
Dava-lhe o brilho da luz
Que o sol tem de manhazinha.
Os olhos de Chapeuzinho
Eram azuis e o rosto
Da cor de romã, a pele
Macia que dava gosto,
A face, tela pueril,
A voz, sonata infantil,
Qual trino d’ave composto.
A Chapeuzinho Vermelho
Um dia alegre brincava
Atrás de uma borboleta
Que de flor em flor pousava
Nisso ouviu a mãe chamar
E dar-lhe um cesto a levar
Para a vó que o aguardava.
No cesto que sua mãe
Mandou para a vovozinha
Tinha uns bolinhos de milho,
De centeio e de farinha,
Potes de geleia? Oito,
Uns cem gramas de biscoito,
Uma torta bem quentinha.
A avó de Chapeuzinho
Morava meio distante,
Quando a neta a visitava
Vibrava de radiante
Isso por só ter aquela
Netinha tão boa e bela,
Bela, boa e cativante.
Sua mãe pediu-lhe que
Fosse imediatamente
Levar o presente para
Vovó que estava doente,
Mas, evitasse a floresta,
Pois diziam morar nesta
Um lobo muito insolente.
A menina disse: Eu sei
Mamãe fique descansada.
E saiu cantarolando
A colher flor pela estrada
Para com elas formar
Um buquê e ofertar
A sua avó tão amada.
De flor em flor distraiu-se
E foi adentrando a mata
Nem percebeu quando um vulto
De cauda, focinho e pata,
Aspecto feio, e, robusto,
Falou: Bom dia! Que susto!
Sentiu nessa hora exata.
Quem deu o – bom dia – foi
O lobo que a mãe falou,
Ela respondeu: Bom dia,
Ao que o lobo perguntou:
O que levas nessa cestinha?
Disse ela é pra vovozinha
Que minha mãe preparou.
E tua avó mora longe?
Perguntou a Chapeuzinho,
- Depois do Carvalho Grande,
É logo ali pertinho,
Ela anda meio doente
Por isso vai-lhe um presente
De torta, doce e bolinho.
O lobo disse, já vou,
Nem esperou despedida
Entrou de floresta a dentro
Numa pressa desmedida
Pois sua “mente perversa”
Sentiu naquela conversa
Cheiro e gosto de comida.
Lobo todo dia tem
Um problema a resolver
É que sua barriguinha
Fica exigindo comer,
Por isso ao sabê-la só
Foi a casa da vovó
Essa questão resolver.
Chegou lá bateu a porta
De dentro a boa velhinha
Perguntou quem está batendo .
Respondeu: Sua netinha.
A vó estranhou um pouco
Aquele som feio e rouco
Que a voz da neta não tinha.
E um tanto desconfiada
Indagou: Estás doente?
Porque essa tua voz
Soa-me tão diferente?
O lobo disse: Não sei,
Deve ser por que tomei
Um pouquinho d’água quente.
A vovó ordenou: Entre.
A porta não estava travada
O lobo faminto entrou
E pulou sobre a coitada,
Duma abocanhada só
Tragou a pobre vovó
Indefesa e assustada.
Mas achou pouco o almoço
Então para completar
Deitou na cama da vó
Cobriu-se e foi esperar
Que chapeuzinho chegasse
Pra ele se empanturrar.
Poucos minutos depois
“Chapéu” Vermelho chegou
Sem bater a porta logo
Foi entrando e entregou
As florzinhas que colheu
A “vó” que agradeceu
Ao tempo em que perguntou:
Querida neta o que trazes
Na cesta que tens a mão?
- São bolinhos pra senhora,
Mas vovó que vozeirão,
O que é que a senhora tem?
- É uma gripe, meu bem,
Que deu-me esta rouquidão.
O lobo imitando a vó
Com voz gutural a chama
Netinha dos meus amores
Sabes que vovó te ama?
Chapeuzinho, meu amor,
Venha sentar, por favor,
Ao lado da minha cama.
E Chapeuzinho Vermelho
Ao atender seu pedido
Olhando um braço da vó
Tão peludo e comprido
Estranhando murmurou:
- Vovó seu braço aumentou
E eu nem tinha percebido.
Esses meus braços, netinha,
São para melhor te abraçar.
- E esses teus olhos grandes?
São para melhor te enxergar.
- Vovó, peço que me informes
Se essas orelhas enormes
São para melhor me escutar.
São, meu bem adivinhastes,
És das mais inteligentes.
- Então vovó, me responda,
Para que lhe servem os dentes
E essa enorme bocarra?
São para fazerem uma farra
Mastigando os inocentes.
Chapeuzinho teve um susto
Ao perceber o engano,
Não era a vó, era o lobo,
Esfomeado e tirano
Que pôs sua avó na pança,
E ela, pobre criança
Iria entrar pelo cano.
Quando o lobo abriu a boca
Para engolir Chapeuzinho
Um caçador que passava
Deu-lhe um “tiro” no focinho,
Ele, no susto, expeliu
A vovozinha que viu
A morte bem de pertinho.
A vovó saiu ilesa
Dizendo: Escapei legal!
Essa sua fala é dita
Olhando pra o pessoal
Da plateia porque essa
Fala marca o FIM DA PEÇA
Encenada no local.
Isto por que Chapeuzinho
Vermelho, vovó, lobão
E o caçador são atores
Para mostra-lhes que não
Tem bicho mau, e, insiste
Que LOBO MAL SÓ EXISTE
EM LIVROS DE FICÇÃO.