Leitor, em versos rimados
Vou minha história contar,
Os crimes que pratiquei
Venho agora confessar.
Jurando que da verdade
Jamais me hei de afastar.
Pedro Batista de Almeida
E Balbina de Morais,
Casados catolicamente,
Foram meus legítimos pais,
Nascidos em Pernambuco.
E do Pajeú naturais.
Nas margens do Pajeú
No distrito de Ingazeira,
Junto à Serra da Colônia
Vi o sol a vez primeira;
Ao nascer trouxe nas veias
Sangue da raça guerreira.
Nasci em setenta e cinco,
Num ano de inverno forte,
No dia dois de novembro,
Aniversário da morte;
Por isso o cruel destino
Deu-me de bandido a sorte.
Meu avô foi muito rico
E meu pai foi abastado,
Mas não me mandou educar,
Porque onde eu fui criado
O povo não aprecia
O homem civilizado.
Ali se aprecia muito
Um cantador, um vaqueiro,
Um amansador de potro
Que seja bem caatingueiro,
Um homem que mata onça
Ou então um cangaceiro.
Meu pai fez diversas mortes,
Porém não era bandido;
Matava em defesa própria
Quando se via agredido,
Pois nunca guardou desfeita,
Morreu por ser atrevido.
Enquanto eu era pequeno
Aprendi a trabalhar,
Chegando aos 14 anos
Dediquei-me a vaquejar.
Abracei aos vinte anos
A profissão de matar.
No ano noventa e seis
Meu pai foi assassinado
Pela família dos Ramos,
Já sendo nosso intrigado,
Um deles, o José Ramos,
Que era subdelegado.
Para punir esse crime
Ninguém se apresentou;
A Justiça do lugar
Também não se interessou;
Aos bandidos a policia
Pareceu que auxiliou...
E eu, que vi a Justiça
Mostrar-se de fora à parte,
Murmurei com meus botões:
-Também eu hei de arrumar-te!
Não quero código melhor
Do que seja o bacamarte.
Eu chamei pela Justiça,
Esta não quis me escutar,
Vali-me do bacamarte,
Que me velo auxiliar.
Nele achei todas as penas
Que um código pode encerrar!
No bacamarte eu achei
Leis que decidem questão,
Que fazem melhor processo
Do que qualquer escrivào,
As balas eram os soldados
Com que eu fazia prisão.
Minha justiça era reta
Para qualquer criatura,
Sempre prendi os meus réus
Em casa muito segura:
Pois nunca se viu ninguém
Fugir duma sepultura!
No dia cinco de junho
Do ano noventa e três,
Fiz eu as primeiras mortes
Matando dois de uma vez!
Manuel Ramos Cabeceira
E um tal João Rosa de Arês.
Depois que fiz essas mortes,
Fiquei desacomodado,
Começaram a perseguir-me.
De Ingazeira o delegado,
Um tal de Francisco Brás,
Matei-o, fiquei vingado.
Então a família Ramos
Fugiu para Imaculada,
Onde por Delmiro Dantas
Foi protegida e guardada,
Nunca mais peguei um deles
Nem mesmo numa emboscada.
Desde esse tempo que vivo
Sofrendo perseguição,
Mas com minha atividade
Sempre evitei a prisão,
Vendo-me, assim, obrigado
A fazer-me valentão!
No ano noventa e sete,
Um meu parente e amigo,
O velho Silvino Aires,
Dissera-me: Vem comigo
Ao Teixeira, que eu preciso
Vingar-me de um inimigo.
De noventa e sete, em junho,
Nós cercamos o Teixeira.
O delegado Dantinho
Deu uma boa carreira,
Foi isso que o livrou
De uma surra ligeira...
Porque meu tio Silvino
Desejava castigar
Esse delegado afoito
Que um dia mandou cercar
Sua fazenda, e os móveis
De casa mandou quebrar.
Quando nos desenganamos,
De não pegar o Dantinho,
Voltamos pra o Pajeú,
Pra lugar que nos convinha;
Dali fomos pra Campina,
Onde uns parentes eu tinha.
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