Antônio Silvino vida, crimes e julgamento

Ivaldo Fernandes
revista cordel Antônio Silvino vida, crimes e julgamento


Leitor, em versos rimados 
Vou minha história contar, 
Os crimes que pratiquei 
Venho agora confessar. 
Jurando que da verdade 
Jamais me hei de afastar.

Pedro Batista de Almeida 
E Balbina de Morais, 
Casados catolicamente, 
Foram meus legítimos pais, 
Nascidos em Pernambuco.
E do Pajeú naturais.

Nas margens do Pajeú 
No distrito de Ingazeira, 
Junto à Serra da Colônia 
Vi o sol a vez primeira; 
Ao nascer trouxe nas veias 
Sangue da raça guerreira.

Nasci em setenta e cinco, 
Num ano de inverno forte, 
No dia dois de novembro, 
Aniversário da morte; 
Por isso o cruel destino 
Deu-me de bandido a sorte.

Meu avô foi muito rico 
E meu pai foi abastado, 
Mas não me mandou educar, 
Porque onde eu fui criado 
O povo não aprecia 
O homem civilizado.

Ali se aprecia muito 
Um cantador, um vaqueiro, 
Um amansador de potro 
Que seja bem caatingueiro, 
Um homem que mata onça 
Ou então um cangaceiro.

Meu pai fez diversas mortes, 
Porém não era bandido; 
Matava em defesa própria 
Quando se via agredido, 
Pois nunca guardou desfeita, 
Morreu por ser atrevido.

Enquanto eu era pequeno 
Aprendi a trabalhar, 
Chegando aos 14 anos 
Dediquei-me a vaquejar. 
Abracei aos vinte anos 
A profissão de matar.

No ano noventa e seis 
Meu pai foi assassinado 
Pela família dos Ramos, 
Já sendo nosso intrigado, 
Um deles, o José Ramos, 
Que era subdelegado.

Para punir esse crime 
Ninguém se apresentou; 
A Justiça do lugar
Também não se interessou; 
Aos bandidos a policia 
Pareceu que auxiliou...

E eu, que vi a Justiça 
Mostrar-se de fora à parte, 
Murmurei com meus botões: 
-Também eu hei de arrumar-te!
Não quero código melhor 
Do que seja o bacamarte.

Eu chamei pela Justiça, 
Esta não quis me escutar, 
Vali-me do bacamarte, 
Que me velo auxiliar. 
Nele achei todas as penas 
Que um código pode encerrar!

No bacamarte eu achei 
Leis que decidem questão, 
Que fazem melhor processo 
Do que qualquer escrivào, 
As balas eram os soldados 
Com que eu fazia prisão.

Minha justiça era reta 
Para qualquer criatura, 
Sempre prendi os meus réus 
Em casa muito segura: 
Pois nunca se viu ninguém 
Fugir duma sepultura!

No dia cinco de junho 
Do ano noventa e três, 
Fiz eu as primeiras mortes 
Matando dois de uma vez! 
Manuel Ramos Cabeceira 
E um tal João Rosa de Arês.

Depois que fiz essas mortes, 
Fiquei desacomodado, 
Começaram a perseguir-me. 
De Ingazeira o delegado, 
Um tal de Francisco Brás, 
Matei-o, fiquei vingado.

Então a família Ramos 
Fugiu para Imaculada, 
Onde por Delmiro Dantas 
Foi protegida e guardada, 
Nunca mais peguei um deles 
Nem mesmo numa emboscada.

Desde esse tempo que vivo 
Sofrendo perseguição,
Mas com minha atividade 
Sempre evitei a prisão, 
Vendo-me, assim, obrigado 
A fazer-me valentão!

No ano noventa e sete, 
Um meu parente e amigo, 
O velho Silvino Aires,
 Dissera-me: Vem comigo 
Ao Teixeira, que eu preciso 
Vingar-me de um inimigo.

De noventa e sete, em junho, 
Nós cercamos o Teixeira. 
O delegado Dantinho 
Deu uma boa carreira, 
Foi isso que o livrou 
De uma surra ligeira...

Porque meu tio Silvino 
Desejava castigar 
Esse delegado afoito
Que um dia mandou cercar 
Sua fazenda, e os móveis 
De casa mandou quebrar.

Quando nos desenganamos, 
De não pegar o Dantinho, 
Voltamos pra o Pajeú, 
Pra lugar que nos convinha; 
Dali fomos pra Campina, 
Onde uns parentes eu tinha.

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