ALEXANDRE DE GUSMAO - GENIO E HEROI BRASILEIRO

Ivaldo Fernandes
REVISTA ALEXANDRE DE GUSMAO - GENIO E HEROI BRASILEIRO - Literatura de Cordel


Literatura de Cordel
ALEXANDRE DE GUSMAO
GENIO E HEROI BRASILEIRO
Autor: Crispiniano Neto

Quem é 0 autor?
Crispiniano Neto é poeta popular e jornalista. Tem 11 livros, umCD e
mais de 120 folhetos publicados. Atualmente é presidente da Funda¢ao José
 Augusto e um dos principais articuladores dos cordelistas.na serene da
 -importância desse género literário essencialmente brasileiro.

01
Musa divina que inspira
Poetas do mundo inteiro,
Traz-me os fluidos do Parnaso
E o saber mais verdadeiro
Pra que eu decante a nação,
Alexandre de Gusmão,
Um grande herói brasileiro!

02
Mas não se trata de herói
De músculos, de espada e aço,
Nem dos quadrinhos que trazem
Superpoderes do espaço;
Não é filho de deus grego,
Cow-boy, nem homem morcego,
Nem valentão do cangaço!

03
Mas como chamar de herói,
Que não brigou nem matou?
Quem não se impôs pela espada,
Quem canhão não disparou,
Quem a lança não brandiu,
Quem bombas nunca explodiu,
Quem Pais nunca atacou?

04
Tenha calma, meu leitor,
Vou lhe explicar, não se zangue,
A história desse herói,
Sem guerra, sem bangue-bangue. |
Sem flecha, espada ou fuzil,
Que fez crescer o Brasil
Sem jamais derramar sangue!

05
Esse nome de Alexandre .
Ele herdou do seu padrinho,
Um padre que lhe ensinou
Da justiça o bom caminho.
E o sobrenome Gusmão
Vem também do capelão
Como a Bíblia, a hóstia e o vinho.

06
Trouxe o destino de outro
Alexandre do passado,
O guerreiro macedônio,
De ser grande e preparado...
S6 que o guerreiro iracundo
Que conquistou meio mundo
Fez com sangue derramado.

07
Alexandre de Gusmão
Nasceu no Porto de Santos
Em “Um, meia, nove, cinco”
Numa família de tantos
Irmãos e irmãs queridas;
Até então, oito vidas
Dadas as rezas € aos mantos.

08
Filho de Maria Alvares;
E Lourenço, cirurgião;
Dos doze filhos nascidos
Têm destaque, ele e o irmão,
Religioso e inventor,
Nosso “Padre-voador”
“Bartolomeu de Gusmão!

09
Inventor do aeróstato,
Foi este’ padre exemplar
Que provou perante o rei
Que era possível voar;
Ao ver uma bolha quente
Fez um balão ascendente
Por ser mais leve que o ar!

10
Pois Bartolomeu levou
Alexandre pra Bahia,
No Colégio de Belém
Demonstrou sabedoria;
Foi pra o Colégio das Artes
Por ser de todas as partes
O melhor que existia!

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Dali saiu preparado
Diplomado, competente,
Em Latim, Retorica e Ética,
E em Logicas, logicamente,
Em Metafisica, versado
E o titulo considerado
De “Filosofo excelente”.

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Mil setecentos e-dez
Com quinze anos de idade
O padre reconhecendo
Sua genialidade
Mandou-o pra Portugal,
Foi pra Corte Imperial
Fazer universidade.

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Matriculou-se em Coimbra
Mostrando grande valor.
Ali estudou, formou-se,
Ganhou grau superior.
Com seu saber cientista
Se tornou iluminista
Ganhando anel de doutor.

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Dali seguiu pra Paris.
Estudar mais era o plano;
Secretario da Embaixada
Logo assumiu sem engano...
Fez em Sorbonne, fantástico,
O Direito Eclesiástico,
O Civil e o Romano.

15
Na passagem pela Espanha, \
Em Madrid passou semanas
Vendo o Tratado de Utrecht
Com falhas meridianas
E o limite natural
Entre Espanha e Portugal
Nas terras americanas.

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Foi em Paris que Gusmão
Aprofundou seu saber
Na Ciência da Politica
Mergulhou pra conhecer
Seu sentimento profundo
E o jogo eterno do mundo
Dos mistérios do poder!

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La na Paris do Rei Sol
A nova luz se acendia
Na mente do brasileiro
Que trocou Teologia:
Pela Razão e a Critica,
Iluminismo e Politica,
Direito e Diplomacia!

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Desistiu do sacerdócio
Inquisidor antiquado.
Notou que o clericalismo
Da fogueira, era apagado;
E ao ler estratégia e tática
Conheceu a essência pratica
Das duras razões de Estado.

19
E em 19 voltou
A residir em Lisboa.
O Rei Dom João acolheu-o
Como querida pessoa;
O nomeou secretario
E plenipotenciário
Pra defender a Coroa!

20
No ano 20 cumpriu
Missão muito especial
negociando‘ em Cambray,
Em plena França real;
Foi um bravo sem bravata
Que se sagrou diplomata
De nível internacional!

21
Bacharelou-se em Direito,
Tornou-se Doutor em Leis,
Foi destacado pra Roma
No ano de 23
Pra junto as cortes papais
Recuperar o cartaz
Do monarca português!

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Até o ano de trinta
Atuou no Vaticano
Fazendo grandes acordos
Pra o bem do seu soberano,
Ganhou, por ser habilíssimo,
O titulo de “Fidelíssimo”
Pra o Monarca lusitano!

23
Com o titulo Dom João V
Compunha trio de escol;
Pois 0 titulo equivalia
A “Rei Católico” espanhol
E o titulo invejadíssimo
Que era “Rei Cristianíssimo”
Da Franga, o próprio Rei Sol.

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Sete anos e três papas
O viram nesta missão
De defender junto a Roma,
Sua querida nação.
Muitos litígios zerou,
E, de quebra, conquistou,
Dos papas o coração!

25
Benedito XIII, o Papa,
Chamou-lhe no Vaticano
Chegou a lhe oferecer
O titulo “Príncipe Romano”
Ele não quis aceitar
Só pra não contrariar
A Dom Joao, seu soberano!

26
No ano de29
A Lisboa regressou
Logo Dom Joao pra o Brasil
Alexandre despachou
E a nossa realidade
Com muita profundidade
Gusmão de perto estudou.

27
Dois anos passou conosco,
Retornou a Portugal,
La transformou-se em Fidalgo
Da Nobre Casa Real;
Como Ciências, sabia,
Entrou para a Academia ‘
Provando ser genial.

28
E logo foi nomeado
Pela própria Majestade,
Num cargo bem próximo ao Rei,
“Escrivão da Puridade”,
E por ter visão moderna
Cuidou da politica externa
Com brio e capacidade!

29
Transformou-se em Conselheiro
Mostrando cultura e tino,
Escreveu livro de Histeria
No idioma latino
E por ser hábil e ser sério
Assumiu um Ministério
No Conselho Ultramarino.

30
O cuidado com o Brasil
Foi um dos encargos seus;
Das relações com 0 Papa,
Cuidava em nome de Deus
E cuidou mais, com denodos,
De ter relações com todos
Os países europeus.

31
No Conselho Ultramarino
Encontrou a solução
Pra poder qualificar
Nossa colonização
Trazendo família inteira
Dos Açores e Madeira,
Mas, sem escravização!

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Trouxe quatro mil casais
Para a região do sulina
Rio Grande e Paraná
Também Santa Catarina.
Cada família, uma área...
O que é reforma agraria,
E Gusmão quem nos ensina.

33
Recomendava a quem vinha
Para o Brasil trabalhar:
Estude rios e minas,
Flora, fauna, céus e mar,
O clima, a arte, a vertente
E os costumes dessa gente
Comer, vestir e€ rezar.

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Dedicou-se a estudar
As produções cartográficas,
Missões, Entradas, Bandeiras,
As bacias hidrografias,
Relevo, edificações...
Geopolítica por razoes
Histéricas e geográficas.

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Concluiu que os países
Não podem ter suas áreas
Divididas ao sabor
De linhas imaginarias;
Que têm sempre as desvantagens
De deixar milhões de margens
Para interpretações varias.

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Sua visão panorâmica
E a mente prodigiosa,
O seu saber filosófico,
Sua ação habilidosa
Deram-lhe mais competência
Para a área da Ciência,
Politica e religiosa!

37
Foi quem criou três bispados
Para, são Paulo e Gerais.
Criou mais as prelazias
De Cuiabá e Goiás
E como pensava em tudo
Fez o mais profundo estudo
Das quest6es industriais.

38
Naqueles tempos longínquos
Deixou um projeto exposto
Obrigando aos poderosos
A pagarem mais imposto
E rebaixando a quantia
Para o pobre que vivia
Do suor do próprio rosto!

39
E implantou o sistema
Chamado “capitão”
Pelo numero de escravos
Que possuía o barão;
Fundiu 0 ouro e fez barras,
Pra ver se acabava as farras
De tanta sonegação.

40
Entre 29 e 30
No Brasil permanecia
Em São Paulo, Minas, Rio
Atuou com maestria
Em tudo que o rei mandou
E de quebra, inda. aceitou,
Ensinar Filosofia.

41
Nesse período ele viu
Que as fronteiras da nação
Desenhada em Tordesilhas
Já não tinham mais razão
De usufruir validade
Pois, frente a realidade;
Era simples ficção!

42
Das Ilhas de cabo Verde
Trezentas, setenta léguas
Ninguém havia medido
E assim, sem metros e réguas
Bandeirantes desde cedo
Fora ocupando sem medo
Sem leis, limites ou tréguas.

43
Os espanhóis no Pacifico
Se entreterão próximo ao mar,
Destruindo Incas e Maias
E a prata a desenterrar
Se esquecendo de um mundão,
Um profundo De-Sertão
Que tinha pra conquistar!

44
Neste “vazio” ficava
Para, Rondônia, Amapá,
Catarina e Mato Grosso
Rio Grande e Paraná,
Amazonas, chão goiano...
Tudo... do Meridiano
De Tordesilhas pra 1a!!!

45
Se a linha era imaginaria,
Quem iria imaginar
Se ela ficava mais perto,
Se mais longe ia ficar...
E haja procurar tesouro,
Haja sonhar prata e ouro,
Haja índio escravizar!!!

46
E assim foram furando
Pântanos, matas, rios, serras;
Fazendo arraiais e vilas
Se apossando em novas terras
Chantando marcos e crivos
E oferecendo aos nativos
Vida escrava ou morte em guerras!

47
Era a espada cortando,
E a batina benzendo,
O arcabuz trovejando
E a aguardente fervendo,
Miçanga aos índios comprando,
O mato abrindo e fechando
E o nosso Brasil crescendo!

48
Matas cedendo ao machado,
A foice, ao Rabo-de-galo,
O chifre do boi tangido
Pelo casco do cavalo,
O “hinterlând” se ampliando
E Tordesilhas ficando
Sem mais ninguém respeita-lo!

49
Além de não existir
Marco e fiscalização
Durante umas oito décadas
' Existiu. a união
Entre Portugal ¢Espanha...
Cada qual comeu na manha
Milhões de léguas do “irmão”!

50
Enquanto aqui, portugueses,
Rasgavam matas a eito,
Cortavam serras e rios
Levando o Brasil no peito,
Na região asiática,
Espanha com a mesma pratica
Agia do mesmo jeito!

51
Mas quando se separaram
As duas nações ibéricas,
As invas6es prosseguiram
Fossem calmas, fossem histéricas
Espanha tomou chão luso
Na Asia e sofreu abuso
De Portugal nas Américas!

52
Além disso, Sacramento,
Aonde a prata aflorava,
Portugal se achava dono
Mas por dono nao se achava
Espanha entrou, não saia...
Quanto mais acordo havia
Mais acordo se quebrava.

53
Assim como portugueses
Em terras americanas
Comiam terras d’Espanha,
Na Asia, m4os castelhanas
Com chumbo, espadas, botinas
Engoliam Filipinas,
Moluscas e Marianas.

54
Quanto mais as ambições
No chão se concretizavam
Mais guerras se sucediam,
Mais ódios se destilavam,
Mais corações se partiam
Mais sangue as terras bebiam
Mais vidas se consumavam!

55
Foi quando se viu que a hora
Não era mais do leão
Que era hora da raposa
Entrar no campo da ação
Trocando a dor da violência
Pela luz da inteligência;
O chumbo pela razão!!!

56
E então saíram da cena
Jagunços e generais;
Em vez de brutos guerreiros,
Finos intelectuais -
Mapas em vez de canhoes...
Em vez do tiro, as razoes;
No lugar da guerra, a paz!

57
E ai brilhou Alexandre
Com mapas e argumentos...
A fala mansa e os estudos
No lugar dos armamentos,
A paciência que ensina
No lugar da adrenalina
Dos músculos sanguinolentos!

58
Defendeu que o limite
Fosse o rastro do colono,
Com base em rios € serras,
Não em linhas do abandono
Feitas de sonho e confetes...
Era o “Uti possidetis”
Quem ocupa e cuida, é dono.

59
Foi assim que em quatro anos
Agigantou-se a nação
Alexandre costurou
As bordas de um Brasilzão, 
Do Oiapoque ao Chuí, 
Até quase Potosí
Com jeitão de coração!

60
O arco de Tordesilhas
De cara, cresceu três vezes;
No Norte, no Sul, no Centro,
Com chio pra nobres, burgueses,
Pra índios, padres, reinóis,
Com a prata pra os espanhóis,
O ouro pra os portugueses!

61
Gusmão inda amarrou mais
Que a paz beijaria a terra,
Do Brasil, mesmo que as sedes
Dos reinos chegassem a guerra.
Venceu sem canhão nem bota
Com “quengo”, na maciota,
Que “o bom cabrito não berra”.

62
Pois este génio, este herói,
Avo da diplomacia
Brasileira, que deu glorias
E terras a monarquia,
Que‘ a Portugal deu poder
Que fez o Brasil crescer,
Foi vitima da tirania!

63
Quando Dom José cobriu-se
Coma coroa portuguesa
Marquês de Pombal cobriu
Gusmão com ódio e vileza
O fogo apegou-lhe os brilhos
Da esposa e de dois filhos
E ele morreu na pobreza

64
A Historia lhe roubou
As glorias que merecia
Por isto, eu faço justiça
Nesta humilde poesia
A ALEXANDRE GUSMAO,
Génio da paz, campeão
Da luz da diplomacia!

Fundação Alexandre de Gusmão.

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