Era uma vez, no sertão
Um homem de nome João
Conhecido por todos ao redor
Por sua vida cheia de dor
João sem braço era chamado
Por não ter membros, coitado
Sua vida era de sofrimento
Sem poder ter qualquer alento
Na roça não podia trabalhar
Sem braços, não podia arar
Dependia da boa vontade
Da sua pequena comunidade
Desde cedo, João sofreu
Sem braços, sozinho cresceu
Sua mãe, mulher de fibra
Ensinou-lhe a força, na lida
Mas mesmo com tanta coragem
João vivia em desvantagem
Não podia sequer se coçar
Era difícil a vida levar
Nas festas do vilarejo
Olhava com certo desejo
Os jovens dançando animados
Enquanto ele, triste e calado
As crianças, na inocência
Perguntavam com insistência:
"João, por que não tens braço?
Te falta força ou fracasso?"
João sorria com paciência
Explicava com sapiência:
"Nasci assim, sem condição
Mas tenho forte o coração"
Mesmo sem braços, João tentava
Ser útil, e se esforçava
Aprendeu a usar os pés
Com destreza e altivez
Escrevia cartas com os dedos
Dos pés, sem medo ou segredos
Suas palavras, tão bem traçadas
Mostravam alma iluminada
Na feira, vendia artesanato
Feito com esforço e cuidado
Usando os pés, ele criava
Belezas que a todos encantava
Era exemplo de superação
Inspirava a população
A nunca desistir de lutar
Mesmo quando a vida machucar
João sem braço, mas não sem valor
Ensinava sobre o amor
Sobre a coragem e a força
De quem vive sem queixa ou que força
Um dia, chegou uma doutora
Vinda da cidade, sabedora
De novas tecnologias
Que mudam vidas, em suas vias
Com ela trouxe uma proposta
De lhe dar próteses, na aposta
De que João pudesse, afinal
Ter uma vida mais normal
João aceitou com emoção
Mas temeu, no seu coração
Será que conseguiria usar?
Será que iria se adaptar?
A doutora, paciente e gentil
Explicou com carinho e fuzil:
"Vamos te ajudar, João querido
A viver sem tanto gemido"
Foram meses de adaptação
Entre tentativas e frustração
Mas João, perseverante como só
Conseguiu, por fim, dar um nó
Aprendeu a se coçar, a pegar
Coisas simples, sem mais chorar
Sua vida começou a mudar
E João voltou a sonhar
Voltou à feira, renovado
Com braços de aço, armado
Mostrou a todos a inovação
Que lhe devolveu a emoção
João sem braço, agora com
Mostrou que é possível, enfim
Transformar a dor em luta
E a tristeza em labuta
Sua história virou canção
Nas noites de São João
E todos cantam com alegria
A saga do homem que um dia
Sem braços, venceu a sina
Mostrou que a vida ensina
A cada passo, a cada chão
Que sempre há solução
Hoje, João é inspiração
Para toda nova geração
Que vê nele a esperança
De uma vida sem balança
Na roça, trabalha com afinco
Na feira, é mestre, sem brinco
E todos sabem, ao vê-lo ali
Que não há limites para si
Sua mãe, de olhos brilhando
Vê o filho, ao mundo mostrando
Que com fé e determinação
Se vence qualquer provação
E assim termina o cordel
De João, um herói fiel
Que sem braços, aprendeu
A viver e ser, no céu
Do sertão ao mundo afora
Sua história, agora e outrora
Será contada, recontada
Como a vida de um sem nada
Que virou tudo, com coragem
Transformou a triste imagem
De sofrimento e dor
Em uma vida de amor
João sem braço, mas com alma
Que enfrentou a vida calma
Mostrou que é possível lutar
E que a esperança há de brilhar.