(Sammis Reachers)
Peço a Deus inspiração
Para, de agora em diante,
Fazer um cordel falando
De um tema muito importante.
Dissertar em versos quero
A história de Lutero
E a Reforma Protestante.
Mas, antes de entrar no tema,
Julgo haver necessidade
Dizer que os fatos ocorrem
Não por casualidade
(Feito Jesus ter nascido
No tempo estabelecido
Por Deus para a humanidade).
Os evangelhos relatam
Que nasceu o Deus menino
Durante os dias de Herodes,
No governo de Quirino,
O tempo pleno propício
Pra obra de sacrifício
Do Rei humano-divino.
Jesus nasceu em Belém,
Veio à Terra pra sofrer
Cumpriu o plano salvífico
Para o homem reviver.
Com choro, sangue e espinho
Foi preparado o caminho
Para a Igreja nascer.
Antes de assunto ao Céu,
Do dorso verde da serra,
Jesus disse: “Testemunhem
A Mensagem que não erra,
Primeiro em Jerusalém,
Na Samaria também,
Até os confins da terra”.
Os seguidores do Cristo
Cumpriram bem Seu roteiro:
Receberam o Espírito,
Oravam o tempo inteiro,
Em tudo se consagravam,
Guardavam e proclamavam
A Mensagem do Cordeiro.
Assim, no primeiro século,
A Igreja Primitiva
Tinha sinais e prodígios,
Harmonia positiva,
Refeição comunitária
E disciplina diária
De fé verdadeira e viva.
Os mandamentos do Mestre
Os Seus discípulos guardaram,
Porém contra a ‘nova fé’
Milhares se levantaram
(Profano versus sagrado).
Perseguições do Estado
Muito rápido começaram.
Nero tocou fogo em Roma,
Pôs a culpa nos cristãos,
Perseguiu-os e matou-os.
Pra divertir os pagãos,
Uns eram incinerados
E outros, crucificados
Com cravos em pés e mãos.
Foram perseguidos pelo
Cetro de Domiciano,
Pelas dúvidas de Plínio,
Absurdos de Trajano,
Antonino Pio, Severo,
Marco Aurélio, Lúcio Vero,
Décio, Diocleciano.
Mas quanto mais acossados,
Mais aumentava a peleja.
Tanto que Tertuliano
(Historiador) enseja
Em um registro de fé:
“O sangue dos mártires é
A semente da Igreja”.
Apenas no quarto século
O encalço se desfaz.
Constantino imperador
Na guerra viu um cartaz,
No céu fulgindo uma cruz
Ouviu a voz de Jesus:
“Com este sinal vencerás”.
Tendo o imperador
À fé cristã abraçado,
Findou-se a perseguição
E Deus foi glorificado.
O culto, então, foi aberto.
Mas se em parte deu certo,
Noutra parte deu errado...
No culto foram inseridos
O coro e a procissão,
Protocolos do império,
Incenso, superstição,
Frívolas devoções fanáticas,
Adotando falsas práticas
E esquecendo a tradição.
Vamos dar um salto agora
Para o século 16:
Vê-se o clero corrompido
Com o éter da insensatez,
Tão servo do vil metal,
Tão longe do ideal
Dito pelo Rei dos reis...
Com a Bíblia já impressa
(Que Gutenberg deu forma),
Foi sendo nítido o abuso
Da igreja que deforma.
(Erasmo de Roterdã
Era um que tinha afã
Que houvesse uma reforma).
Entre as práticas mais comuns
De grande deturpação,
Era a venda de indulgências
(O comércio de perdão)
À graça fazendo acréscimo.
Foi o Papa Leão X
Quem deu autorização.
João Tetzel, um vendedor,
Sem escrúpulo e sem noção,
Para vender indulgências
Dizia abominação,
Que a paga do valor
Tornaria o pecador
“Mais limpo do que Adão”.
Neste cenário dantesco
Algo devia ocorrer,
Mas Deus traçara os caminhos
Pra mudança acontecer
E expor um novo sentido
No tempo estabelecido
Para Lutero nascer.
Nascido a 10 de novembro
De catorze, oitenta e três (1483),
Na cidade de Eisleben
Do solo alemão cortês
(O bebê seria adiante
Reformador importante
Lá do século 16).
Na escola, aos 4 anos,
Ele foi matriculado.
Aprendeu o Padre Nosso,
Tinha o Credo decorado.
Com 6 de idade (somente)
Falava Latim fluente,
Era culto e educado.
Em mil quinhentos e dois (1502),
Lutero formou-se em Artes,
Mas o sonho do seu pai
Tinha outros estandartes:
Ver o seu filho formado
Como grande advogado
Defendendo justas partes.
Em mil quinhentos e cinco (1505),
Passa a estudar Direito,
Sem nem sonhar que seu curso
Tomaria um outro efeito,
Que ao mundo transformaria,
Pois nosso Deus escrevia
Pra ele um plano perfeito.
Dois de julho, aquele ano,
Indo para a faculdade,
Lutero temeu morrer
Numa grande tempestade.
Clamou por Santa Ana ao longe:
“Me ajude e me torno um monge,
Me dedicando à Trindade!”
O seu pai ficou chocado,
Não lhe deu consentimento.
Porém, ele decidiu
Cumprir o seu juramento
E executou seu plano:
Ser monge agostiniano
Internado num convento.
Mesmo entregando
-se à fé, Vivia subjugado
Aos dilemas existentes
Pelas chagas do pecado.
Se achava um pecador
Indigno de ter amor,
Digno de ser condenado.
Para ele, Deus não era
Um Pai amoroso e terno,
Mas um déspota inclemente
Que pisava o subalterno.
Em vez de verdes alfombras,
Lutero só via as sombras
Dos tormentos do inferno.
Por vezes, dizia: “Deus,
Poderia, acaso, amá-Lo?
Se Lhe sinto tanto medo,
Chego até a odiá-Lo!”
Tendo, então, este conceito,
Ao invés de paz no peito,
Sentia o maior abalo...
Entretanto, prosseguiu
Sua religiosidade...
Professor em Wittenberg,
Grande universidade.
Pra lecionar, com cuidado,
Estudava, dedicado,
A Palavra da Verdade.
Ao examinar a Bíblia,
Deus o colocou de pé.
Em um quarto, à luz de velas,
Vê a Verdade o que é
No versículo que reflete
Romanos 1:17:
“Vive o justo pela fé”.
Foram-lhe então reveladas
As verdades encobertas
Que a justiça divina
Nos conduz às vias certas.
E disse dando um sorriso:
“As portas do paraíso
Agora me foram abertas!”
Ao entender a Mensagem,
Teve alegria tamanha
Que escreveu noventa e cinco
Teses contra a venda estranha
De indulgência papal
E expôs na Catedral
De Wittenberg, Alemanha.
Fizeram cópias das teses
Em latim e alemão.
Um tempo depois, as tais
Se espalharam na nação,
Gerando o maior abalo
E o papa quis obrigá-lo
A fazer retratação.
Mas Lutero recusou
-se Renunciar a Verdade.
Não viu o poder do papa,
Viu de Deus a majestade.
Com a fé que ninguém toma,
Foi infiel ante Roma,
Mas foi fiel à Trindade.
Pela bula Exsurge Domine
O papa lhe condenou.
Mandou queimar os seus livros,
A Worms lhe convocou.
A Igreja lhe inquiria
E ele não se retratou.
A mando de Frederico,
Foi Lutero raptado,
Ao castelo Wartburgo
Secretamente levado
Para, assim, ser protegido
E continuar imbuído
No seu trabalho sagrado.
Naquele tempo, a Europa
Estava em tom turbulento:
Rebelião camponesa
Com ataque violento.
Mesmo assim, a luz fulgia
Pois Lutero traduzia
Todo o Novo Testamento.
Em meio a tantos conflitos,
Problemas e empecilhos,
Lutero viu sua vida
Envolta em sublimes brilhos,
Pois Catarina von Bora
Tornou-se sua senhora
E a mãe de seus seis filhos.
Por tentar impor a crença
Católica predominante
Aos príncipes luteranos,
Estes protestaram avante
Com firmeza que não some...
É daí que vem o nome
A “Reforma Protestante”.
Sabe-se que Lutero foi
Acusado de heresia.
Porém, qual era o perigo
Do que ele proferia?
Ele era profeta ou louco?
Vamos, pois, olhar um pouco
A sua teologia.
Foi a Palavra de Deus
O seu ponto de partida
(Pois o Verbo se fez carne
E até nós veio em seguida).
Suas virtudes expressas
Não são palavras impressas,
Porém são espírito e vida.
Dizia: “Quem lê a Bíblia
E nela não vê Jesus,
É como um cego sem guia
Com um coração sem luz,
Perdido nos passos seus,
Pois só se conhece a Deus
Pela loucura da cruz”.
Pela fé que justifica
O pecador miserável,
Vê-se o abismo de ofensas
E o poder imensurável
Que renova o homem velho,
Pois a Lei, pelo Evangelho,
Fica doce e agradável.
O cristão se isolar,
Pra Lutero era ação feia.
Pois a Igreja é morada
Que a glória de Deus passeia.
Por estes seus ensinamentos,
Somente há dois sacramentos:
São o batismo e a ceia.
Outro ponto teológico
Agora destacarei:
Deus instituiu dois reinos,
O Evangelho e a Lei.
Desta forma fixado,
Fica a Lei sobre o Estado,
Do Evangelho Cristo é Rei.
Destarte, os crentes em Cristo
Não veem qualquer razão
Para querer que o governo
Imponha a fé à nação.
Ele tem outro reinado.
Para os cristãos, o Estado
É laico, nunca cristão.
A Reforma Protestante
Trouxe um quadro magistral
Que foi além dos parâmetros
Da crença sacerdotal,
Apagando muitas lendas
E imprimiu-se nas sendas
Do contexto ocidental.
Falando em Educação,
A Reforma desenrola
Que o ensino infantil
Para o mundo é uma mola.
Ao ver Lutero pregar
Sobre o dever de mandar
As crianças à escola.
Ver pequenos estudando
O Reformador queria.
Não religião apenas,
Mas política, economia
E letras, que assim se apruma
Para a construção de uma
Sociedade sadia.
Nas relações trabalhistas,
Esboçou um novo atalho.
Criou o termo beruf,
Afastou muito atrapalho,
Pois beruf é “profissão”,
Mas também é “vocação”,
Nova ética do trabalho.
Ainda quis construir
Relações de harmonias
(Que depois Kant aprimora
Junto a outras teorias),
Traduzindo o ideal
De um governo federal
Acolhendo as minorias.
Pensar na Reforma e
Na sua teologia,
Faz a gente refletir
Sobre o tempo de hoje em dia
Em que há coisas tão feias
E muitas igrejas cheias
De gente oca, vazia...
Os princípios reformados
Deletaram da memória:
Só a graça, só a fé,
Só a Cristo a meritória,
Só a Sagrada Escritura
(Como regra santa e pura),
Somente a Deus seja a glória.
Tem templo que culto é show
Que não fala em salvação,
O púlpito virou um palco
Pra fazer motivação
A bodes não convertidos
Que só inclinam os ouvidos
Pra “pastor ostentação”.
Falam em curas e bênçãos,
Em fé para prosperar,
A Mensagem do Cordeiro
Esquecem de predicar.
Será que para este povo
Virá um Lutero novo
Isso tudo reformar?
Longe da mídia e do marketing
De estrutura abominável,
Há um povo que ora e busca
Com o coração incansável,
Aos princípios não nega,
Prega a Palavra e se apega
Ao Senhor Incomparável.
Lutero foi deste jeito
E Deus, em Sua grandeza,
Entregou-lhe o colírio
Para enxergar com clareza,
Ao na Bíblia dar um visto:
O Evangelho de Cristo
É nossa maior riqueza.
18 de fevereiro
De quinze, quarenta e seis (1546),
Às duas da madrugada
(Ou pouco antes das três),
Lutero foi convocado
Ao doce sono sagrado
Na glória do Rei dos reis.
Trilhou seus passos ao lado
De Jesus de Nazaré,
Enfrentou oposição,
Mas permaneceu de pé,
Da vida fez um troféu
Mostrando pra terra e céu:
“Vive o justo pela fé”.