Moacir Laurentino (ML) e Sebastião da Silva (SS)
ML
Eu gosto tanto do xote
e da POESIA DIVINA,
quando eu começo a cantar
sinto que a voz se afina,
penso que nunca adoeço
e que a vida nunca termina.
SS
Cantar é minha doutrina,
foi a opção que fiz,
pra defender a cultura,
e para cantar meu País,
cantar pra viver alegre,
sonhar pra viver feliz.
ML
Alcancei o que mais quis
e arranjei conhecimento,
afinando as 7 cordas
tocando o meu instrumento,
eu sinto a marca divina
ligada em meu pensamento.
SS
Já passei por sofrimento,
por tristeza e ameaça,
pelas queixas e as dores
e herança da nossa raça;
porém cantando repente,
todo sofrimento passa.
ML
Comecei cantar pra raça,
numa fase adolescente,
vai fazer 40 anos,
que eu vivo só do repente,
ainda quero cantar mais
uns 10 ou 15 pra frente.
SS
Venho desde inocente
nesse grande labirinto,
passei por muitas torturas,
passei momentos faminto,
porém cantando no pinho,
esqueço as dores que sinto.
ML
Vivo do jeito de Pinto,
de improviso e boemia,
criei até 4 filhos
à custa de POESIA,
terminei de criar todos
e hoje DEUS é quem me cria.
SS
Sigo nesta rodovia,
de subida e de descida,
trilhando neste caminho,
de viagem indefinida
e fazendo dos meus repentes
o pão gostoso da vida.
ML
Minha alma adormecida
desperta o sol, extrapola,
o grito salta do goela,
ouvindo o som da viola
e pra filho de gente pobre
nunca vi melhor escola.
SS
Vivo do som da viola,
do repente à cantoria,
eu acho que DEUS me deu
a arte que eu merecia,
fez muito bem me dar isto,
que outra coisa eu não queria.
ML
Pedi a Virgem Maria,
que me desse solidez,
busquei no dicionário
a certeza, o português,
é DEUS passando pra mim
e eu passando pra vocês.
SS
O divino Rei dos Reis
me fez poeta disposto,
para cantar minha queixa,
minha dor e meu desgosto,
e é só cantando repente
que a vida tem melhor gosto.
ML
A arte eu faço com gosto,
porque da ARTE preciso,
utilizo a engrenagem
da mecânica do juízo,
e minha boca é ambulante
distribuindo improviso.
SS
Vivo do meu improviso,
vou viver até o fim,
foi assim que eu nasci,
quero sempre ser assim,
acordando o repentista
que dorme dentro de mim.
ML
Eu não sei quando é meu fim,
só tem JESUS que indica,
enquanto eu souber cantar,
minha idéia multiplica
quando eu partir qualquer hora,
minha POESIA fica.
SS
Quero minha idéia rica,
como tive no troféu,
como esse solo que piso,
com a roupa e o chapéu,
e dos versos faço uma escada,
pra ir direto pra o céu.
ML
Já ganhei mais de um troféu,
do jeito de Zé Sobrinho,
de Pinto e de Lourival,
Otacílio e Canhotinho,
que eu quero é viver cantando
do jeito de passarinho.
SS
Eu venho desde novinho,
nessa minha profissão,
depois que eu envelhecer,
que eu me tornar ancião,
ao invés de uma bengala,
quero a viola na mão.
SS
Quando a vida tiver ruim,
cheia de trôpego, desgraça,
me arranje uma viola,
meio litro de cachaça,
e uma banda de limão,
que eu bebo e a raiva passa.
ML
Para mim não tem seqüela,
queixa, nem dor de saudade,
vou aqui rompendo o mundo,
do jeito da tempestade,
nem me curvo nem ao peso
da carga da minha idade.
ML
Viver cantando o sertão,
e belezas que ele tem,
o canto da sabiá
e algum ninho do vem-vem,
viver com simplicidade,
sem ter raiva de ninguém.
SS
Até hoje eu vivo bem,
pelo dom que eu ganhei,
pelas cantigas que fiz,
os caminhos que trilhei,
os versos improvisados,
e amigos que arranjei.
ML
Os troféus que eu ganhei,
por que tenho preferência,
as expressões que já disse,
à luz da inteligência,
posso partir qualquer hora
e deixo em minha residência.
SS
Agradeço à Providência,
por cada troféu e taça,
por ser artista do povo,
por ser boêmio na praça,
obrigado DEUS e povo,
que me ouve e me abraça.
ML
Sou da cana, sou da taça,
sou do boteco e do bar,
sou da igreja e da praia,
do salão do lupanar,
que eu sou de qualquer recanto,
que a platéia desejar.
SS
Eu vou pra qualquer lugar,
cantar para fazer show,
distribuir alegria,
sem ter alegria, eu dou,
sou como o nome de DEUS,
em todo canto eu estou.
ML
Meu repente adocicou,
como garapa de engenho,
o meu verso leva doce,
no mais alto desempenho,
nunca dei o que comprei,
PORÉM DOU DO DOM QUE EU TENHO.
SS
Cinquenta e nove já tenho,
de anos ou de idade,
44 de arte,
com muita simplicidade,
a vida cheia de paz,
e a alma, de liberdade.
ML
Viver com intensidade,
nessa minha trajetória,
não ter a alma pesada,
sacrifício e palmatória,
e quando eu canto deixo um livro,
para contar minha história.
SS
Sigo a minha trajetória,
trilhando equilibrado,
carrego há 44
anos, um fardo pesado,
mas nem reclamo do peso,
e nem digo que estou cansado.
SS
Na ARTE sou orgulhoso,
graça ao Pai Jeová,
carregando a profissão,
cantando igual sabiá,
infeliz quem não agüenta
a marca que DEUS lhe dá.
SS
Já trabalhei no sertão,
fiz o maior rebuliço,
já cultivei, já colhi,
já tirei mel de cortiço,
e por ser um sertanejo,
gosto sim de fazer isso.
ML
No campo, não fiz chouriço,
que essa luta eu não entendo,
no trabalho eu já rendi,
no repente ainda rendo,
pois DEUS me deu esse dom,
e eu vivo lhe agradecendo.
SS
Por isso eu estou querendo,
saudar a quem está presente,
e agradecer ao povo,
que veio ao nosso ambiente,
assistir à cantoria,
e bater palmas para a gente.
ML
Essa platéia decente,
conhece a minha odisséia,
o som da minha viola,
que eu conheço essa platéia,
o rapaz calibra o som
e eu calibro a minha idéia.
SS
Muito obrigado à platéia,
que veio pra cantoria,
e agradeço muito mais
a cada um que aprecia,
porque se não fosse povo,
nada o poeta seria.
SS
ZÉ DANTAS é nosso irmão,
grande nome cultural,
uma criatura boa,
que está neste local,
e ainda carrega o cheiro
da MARINGÁ DE POMBAL.
ML
Outro amigo especial,
que se sentado não sai,
é o nosso João FEITOSA,
que é talentoso e não cai,
aprecia a poesia,
do mesmo jeito do pai.
ML
Outro grande amigo meu,
que eu visito todo ano,
esse já morou no Rio,
é o nosso CIPRIANO,
eu moro em cima da serra,
e ele perto do oceano.
ML
TIAGO aqui está presente
hoje aqui na nossa sede,
é primo de FENELON,
e é da seca SÃO MAMEDE,
onde o povo pede chuva,
e DEUS não atende a quem pede.