Fran Souza
Esta lenda é muita antiga
É indígena a sua origem
Lá no começo do mundo
Ela seduzia as virgens
Assim contavam os Tupis
Das tribos dos guaranis
Da lua essa vertigem.
Assim contavam os pajés
Que quando a lua gostava
De uma moça donzela
Em estrela transformava
E parecia descer
A serra e se esconder
E com ela namorava.
Naiá, a filha de um chefe
Cresceu ouvindo essa lenda
Contada pelo seu povo
À noite em volta da tenda
Ela com sua beleza
Era da tribo a princesa
E do pajé sua prenda.
Porém a bela Naiá
Quando essa história ouvia
Ardia-lhe o coração
E planos ela fazia
De ir namorar a lua
E de um dia ser sua
Pensativa ela vivia.
E quando chegava a noite
E a tribo silenciava
Caindo em profundo sono
Só Naiá não se deitava
Saía de mata adentro
Num grande deslumbramento
Pela lua procurava.
Pois a princesa queria
Ser transformada em estrela
E no alto das colinas
Ela procurava vê-la
A lua ela perseguia
Mas a lua não lhe via
Pra desgosto da donzela.
Por mais que ela perseguisse
E desejasse a lua
Não conseguia ser vista
E nem ser amada sua
Não tirava da lembrança
Nem perdia a esperança
De encontrar com a lua.
E durante muito tempo
Toda noite ela saía
Numa tristeza profunda
E soluçando caía
Sobre o tempo debruçada
Chorando angustiada
Que de longe se ouvia.
Mas a lua displicente
Parecia não notá-la
Majestosa lá no céu
Não ouvia aquela fala
Da índia que ali vivia
E em amor se consumia
E a pobre moça se cala.
Porém numa noite clara
Naiá a mata adentra
E parando em um lago
A lua a dor lhe acalenta
Mostrando sua face bela
Naiá reconhece nela
O fim de sua tormenta.
E vendo aquela imagem
De beleza refletida
Na clara água do lago
Naiá sentiu-se querida
A pobre moça chorando
Viu a lua lhe chamando
Para lhe dar a guarida.
E sem pensar duas vezes
Naiá no lago entrou
Mas o lago era fundo
E a lua não encontrou
Pois era só um reflexo
E aquele amor complexo
A sua vida levou.
Daquele dia em diante
Só se ouvia falar
Na princesa guarani
A mais bela do lugar
Que no lago se perdeu
E pela lua morreu
A doce e bela Naiá.
E conta a lenda que a lua
Não sabendo o que fazer
Pra recompensar a morte
E acalmar o pajé
Presenteou sua gente
Com uma estrela diferente
Para cumprir seu dever.
Pois o amor de Naiá
Sincero e inocente
Merecia ser lembrado
Por toda aquela gente
E com flores perfumadas
Flores brancas e rosadas
Lembra a estrela cadente.
A planta Vitória Régia
Até hoje é chamada
Estrela das claras águas
E a Naiá dedicada
E a noite enfeitando o lago
É o amor que foi pago
Da moça apaixonada.
E foi assim que nasceu
Essa planta muito bela
De noite tem flores brancas
De manhã ficam mais belas
Cujas flores perfumadas
De brancas ficam rosadas
Como a pele da donzela.
Na região amazônica
Encontramos essa flor
Da planta Vitória Régia
Representando o amor
De uma jovem guarani
Que lá na tribo Tupi
Da lua se enamorou.