Está vendo aquele velhinho
que anda todo envergado,
foi de trilhar no caminho
que o levava ao roçado,
todo dia bem cedinho,
tomava seu cafezinho,
com pão, bolacha ou cuscuz
saía bem satisfeito,
cantando dentro do peito,
os benditos de JESUS.
Lá na Pedreira Lavrada,
quando amanhecia o dia,
batia logo a enxada
e para o roçado seguia,
saía cedo e voltava
e da luta não se enfadava,
pois era robusto e forte,
hoje soluça dizendo,
meus olhos já estão vendo
os negros grilhões da morte.
Até a enxada sente
suas lembranças passadas,
não sente assim como a gente,
mas com as mãos calejadas,
o caminho do roçado
está com mato tapado,
e o velhinho lembrando
das pedrinhas que pisava,
onde passava e cantava,
hoje recorda chorando.
Se senta lá no batente,
acende o cachimbo e fuma,
o peito velho não sente,
quase alegria nenhuma,
mas não esquece o roçado,
vendo a enxada de lado
a ferrugem dando nela,
e o velho sem alegria
lembra as centenas de dias,
que puxou no cabo dela.
Para acalentar seu choro,
tinha a velhinha coitada,
um velho chapéu de couro,
um cachimbo e a enxada,
e o cachorrinho veludo,
que acompanhava em tudo,
com o tempo, está além,
hoje passadas não faz
que o dono não pode mais
e nem ele pode também.
Lá o cachorro morreu
e a velha morreu também,
daí tudo enegreceu,
fica o velho sem ninguém,
ninguém lhe dava comer
e ele sem poder fazer,
vendo a companheira morta,
levantou-se da esteira
e sentou-se a vez derradeira
lá no batente da porta.
Lá o cachimbo acendeu,
respirando bem baixinho,
abriu a boca e morreu,
virado para o cantinho,
a mão direita estirada,
para o cabo da enxada,
companheira do passado,
pela ferrugem comida,
e assim terminou a vida
do VELHINHO DO ROÇADO.
Hoje quem por perto passa
vê na beira da estrada,
do cachorrinho, a carcaça,
vê do velhinho, a enxada.
Vê solitária a palhoça
e vê o caminho da roça,
parecendo algum deserto,
escuro como carbono,
somente porque seu dono
nunca mais passou por perto.
vê solitária a palhoça
e vê o caminho da roça,
parecendo algum deserto,
escuro como carbono,
somente porque seu dono
nunca mais passou por perto.